terça-feira, 29 de dezembro de 2009

cidadã

Antes de mais nada, incluam, como aqueles rodapés prontos de emeio com nome e telefone, em tudo o que eu escrever a partir de agora o seguinte começo "Porto Alegre. 40°C. Queria morrer."; porque se essa frase não for a protagonista dos próximos posts, ela será parte importante. Continuemos.
Porto Alegre. 40°C. Queria morrer (só pra ir treinando). Errei a parada e desci antes do 165/Cohab, um ônibus que eu pego às vezes só pra chegar e curtir minha galera. Godamnit, esbravejei. Eu tenho uma mania muito ruim que é a de ter peninha das coisas e das pessoas. Não consigo seguir aquele lance de "foda-se, nunca mais vou ver essa gente mesmo", só quando eu estou bêbada e, claro, geralmente vejo de novo as pessoas. Enfim. Puxei a cordinha de maneira precipitada e, quando o seu motorista parou, não pude não descer do ônibus, fiz o cara parar, então agora vou descer. Desci.
Após o godamnit!, fui me arrastando por aquela cálida avenida e não pude deixar de notar as bolhas que iam se formando no asfalto pelo calor (not), eis então que surge uma carteira na minha frente. Não carteira de grana, uma carteira de profissão mesmo, dessas pintas que vestem amarelo e podem subir no bus sem pagar. Oi, com licença, disse uma mulher gordinha de lá seus trinta anos, com uma malinha de cartas, um boné, com sua pele morena bronzeaaaada do sol, traduzem a sensualidade, reluz em meu seeeeer. Tá, parei.

- Oi...?

- Oi, tu tá indo pra tua casa agora?

Ok, medo. Meu lado teoria da conspiração foi quem trouxe rapidamente a primeira hipótese antes que a carteira pudesse esclarecer qualquer coisa. De alguma forma, essa mulher sabe onde eu moro, eu deveria estar pendurando roupas na rua quando o google earth fez sua última atualização. Ela certamente vai me pedir para levar alguma carta até o meu prédio, tendo em vista que ela teria que subir todo o morro só para isso. Tá. É isso então. Larguei a sacola da Zara no chão, senti as roupas e suas respectivas etiquetas remarcadas pela famosa liquidação de final de ano acomodando-se no chão quente, olhei fundo dos olhos da moça e disse, fazendo a mais estranha das feições que minhas sobrancelhas me permitem:

- Sim... Por quê?
- Ah, ótimo! Assim. Avisa teu pai que o documento do carro dele chegou hoje no fim da tarde, então é pra ele passar na agência aqui da Padre Cacique até amanhã ao meio dia para pegar, que vai estar aqui disponível pra ele, tá? Ele foi hoje mais cedo buscar mas ainda não tinha chegado.

Tipo, QUÊ? Comecei a rir. Talvez de nervosa. Das duas, uma: ou essa mulher me reconheceu de já ter ido lá no prédio e agora sabe exatamente as minhas feições, a ponto de me reconhecer sacoleira e suada caminhando pela rua, talvez até saiba meu RG, meu CPF e o resultado do meu teste do pezinho, ou eu sou tão escancaradamente a cara do meu pai que ela me viu ao longe e pensou "Viiish, essas bochechas caídas, essa papada no pescoço, essa altura toda. Só pode ser filha do seu Raul". Sinceramente, não sei o que é pior. Só sei que quando se mora numa cidade há tanto tempo a ponto de ter que ser porta-voz da carteira do bairro, está na hora de repensar os prismas.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

god saved the queen

Saca quando tu escolhes um outfit para certa ocasião e, ao chegar lá, pensas "acertei. alôca, adoro. por favor, me enterrem com essa roupa"? Enfim, não exatamente assim porque essa sou eu, mas quando o outfit condiz com a temperatura, com o local, com o tom e, menos importante, com as outras pessoas? Então.
Ótima hora para se estar de luvas.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Encosto

Nada de novo, chove em Porto Alegre. Venta lá fora e agora faz UM FREAKING CALOR DEMONÍACO DOS CAPETA! Vocêêê! Vocêê! E praticamente todos voocêês! < / Zé do Caixão > . Nei Van Sória deve ser do tempo em que calor era 30°C. Bons tempos aqueles.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

looks like homeless

Enquanto o mozilla girava e girava, abrindo todas as abas dos meus favoritos, eu checava os já carregados. Neste solene momento, dei-me conta de algo que eu nunca tinha parado para pensar sobre. Desci a barra de rolagem do coutequecoute e percebi: não sei montar outfits masculinos. Não faço a menor idéia, actually. Não tenho noção de estrutura, da proporção do corpo e dos números, do tecido que vai cair bem, e qual o corte, enfim, no fucking clue. Não sei quais cores ficam bem com o que e com qual tonalidade de pele, não sei o que disfarça os gordinhos, não sei o que favorece os magros, não sei o que está em alta no universo masculino e não compreendo direito a coerência que as tendências seguem.
Aí, parei para pensar no que sempre foi meu parâmetro fashionista do universo masculino: mendigos. Vivo, quase diariamente, a seguinte situação. Estou passando pela rua e deparo-me com um mendigo. Na sequência, olho em volta e reparo no primeiro cara com ares de quem tem onde cair morto. Na maioria das vezes, prefiro o outfit do mendigo. Os homens têm uma tendência incrível ao simplismo. Não estou generalizando, tampouco falando em minimalismo. É simplismo mesmo, e, na maioria dos homens, consta. É aquela idéia de colocar uma camiseta com escritos sem sentido em inglês ("psycho surfer", repare. Há milhares), uma calça jeans de corte qualquer e um tênis horroroso, indicado para corridas. Aí cria-se o conceito de que o cara é um surfista maluco que veste calças estranhas e vai disputar a São Silvestre a qualquer instante. É essa a temática que eles querem passar ou eles não se importam? Passemos para o mendigo.
O outfit do mendigo é sempre aquele despropósito conceitual, vivem em eternos revivals de descartes alheios e apostam nas sobreposições e na durabilidade. Pelo fato de as roupas já estarem desgastadas, elas ganham aquele ar de cores "sujas", cores neutras, uma paleta mais natural. Abalam as estruturas preppy, indo contra os modismos e criando, desde as ruas, sua própria tendência. Conforme adquirem, sabe-se lá como, suas peças, vão montando o composit de acordo com a temperatura e o meio. Nada mais coerente. E falando em "sabe-se lá como", quer algo mais hype do que ter roupas que vêm do nada, que ninguém sabe identificar onde foram compradas? Fora que second-hand clothes nunca estiveram tão em alta. Mendigos constroem seu conceito sem querer.
Se pegarmos o sentido bruto da palavra "moda", ela nada mais é do que a variável de maior frequência, ou seja, é o valor, em termos de medidas, mais popular. Quando alguém me diz que eu "estou na moda", paro e penso. Olho ao redor. A maior parte das pessoas não se importa com o que vão passar com a roupa, não a veem como uma forma de comunicação e uma primeira impressão, não a consideram uma fundamental peça de contato inicial e "pré-conceitos". As pessoas não ligam. Se esse fenômeno ocorre com a maioria, logo, a moda é não se importar e se vestir mal. A variável de maior frequência.
Tenho pavor de estar na moda. Sempre prefiro fazer parte da minoria que se importa. A variável de menor frequência que quer estar bem consigo mesma. Os mendigos também são assim. Fazem parte da minoria. Talvez não vejam o The Sartorialist, mas usam sapatos sem meias. Talvez não vejam o Garbage Dress, mas devem encontrar roupas no lixo. Talvez não entendam muito bem o coute que coute e todo o universo de roupas masculinas, do mesmo jeito que eu não entendo e talvez nem percam o seu tempo (e quanto tempo eles têm!) pensando nessas coisas. Mas, dentro do inconsciente coletivo fashionista, tudo é válido. Os mendigos, querendo ou não, fazem parte disso. Há algo mais street style do que um mendigo?

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

momento felícia

Essa é, oficialmente, a coisa mais bonitinha que eu já vi nos últimos tempos.

bem comida do dia

Hospital. Freaking 8:30h da manhã. Sala de coleta. Muitos velhinhos jogados pelos cantos, nas desconfortáveis cadeiras, lendo jornais de semanas atrás. Requisições, pessoas, potinhos, todos circulando pela sala. E eu ali, com a ficha 73 na mão. "Puta merda, vou me atrasar pro trampo", pensamento recorrente. Mau humor, pressa, vontade de ir no banheiro e enjôo matinal proveniente da sibutramina.

- 73!
Eu. Ótimo.
- Bom dia. :)
- Ó. Tenho que entregar isso para coleta. ):(
- Ah, sim. Só vou te fazer o cadastro :D
- Tá. ]:|
- Tudo bem *checa minha ficha*, Silvia. Pode me entregar tua coleta de urina. É a primeira urina do dia? :DD
- Sim. ^o)
- Tudo certo. Vai ficar pronto dia 15, ou tu podes acompanhar pela internet se fica pronto antes. E ah, que bonita tua roupa. xD

A pinta acorda sabe-se lá que horas pra pegar num trampo que consiste em ficar sentada numa sala de espera recebendo mijo em potinho e cadastrando fichas. É ridiculamente bem humorada e elogia a roupa de quem passa seu xixi para ela. Dá pra acreditar num troço desses?

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

not follower

Produzo muitos caracteres e possuo poucos seguidores. Por isso posto, e não twitto.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

se demitir e coçar, é só começar

Quase um mês desde o último post, volto a dar as caras por aqui... Mudei o prisma em relação a tantas coisas neste último mês que já nem sei mais. Ultimamente é tanto trampo, projeto de faculdade, correria que nem vejo a semana passar. Durmo pensando nos prazos da faculdade, acordo no meio da noite pensando em um arquivo do trampo que eu fechei com Stone Sans, enquanto deveria ter sido Stone Sans Std Semibold e aí já não durmo mais. Ando me atucanando com pouco, me alimentando mal, engordando e ficando com a pele podre. A gente se dá conta do declínio quando o Seu Bigode, do Cachorro-Quente do Bigode, olha para ti e diz "Ô amiga, número dois com guaraná diet, né? Espera que já sai!". Aí é foda. Por outro lado, paro, penso e me dou conta de que estou na melhor fase da minha vida.
Se demitir é, definitivamente, delicioso. É um lance meio banda Vexame, "siga seu rumo". "Quem é? Sou eu! O que é que você quer? Vo-cê! É tarde! Por que? Porque hoje sou eu quem não quer mais você!". Aí sai-se batendo porta, e eu quase não gosto de um drama. Há pouco fiquei sabendo através dos meus informantes (a.k.a. secretária "silvia team") que falaram mal de mim na minha saída, que eu não respeitava o horário, que eu saí deixando uma série de coisas pendentes e tudo mais. A menina que entrou no meu lugar cagou todo o arquivo de um projeto de encarte, o que desencadeou em horas de trabalho fazendo algo que já havia sido feito e, claro, um xingão do chefe que fez com que a menina não aparecesse mais lá. Meu santo é forte. É bom ver o quanto dói uma saudade. Acho que nem quando eu fui panfleteira me senti tão pouco digna... NOT.
Agora, mudança de ares. É maravilhoso ter novamente a sensação de estar aprendendo algo. Trabalhar com pessoas que sabem o que estão fazendo e que realmente podem te passar ensinamentos karatê kid para o resto da vida. Diagramando e pintando a cerca. Outra que eu sempre quis trabalhar no centro, o 18° andar da esquina democrática é inspirador. Meu campo de visão anterior eram algumas janelas através da janela atrás do meu computador. As windows atrás do Windows. Agora, meu campo de visão são prédios e mais prédios, o Guaíba, o Mercado, os corredores de ônibus e aquele fluxo inerminável de transeuntes. Se eu me concentro bem, quase vejo os comandos do Roller Coaster Tycoon na janela, aquele barulho das pessoas conversando, gritando, rindo é o mesmo. Talvez se parecesse mais com o Sim City, mas nunca fui de jogar Sim City, só The Sims, Silvia, volta pro teu computador pra não deixar transparecer o déficit de atenção, penso. Enfim, estou adorando o novo trampo.
Como eu ainda não tenho exatamente que me preocupar com muitas contas além dos carnê do Seu Renner, ou com sustento, filhos e aquela coisa toda, aproveito para experimentar. Experimentei dois trampos e nenhum me apeteceu. Agora, vamos para uma coisa nova e ver se é isso o que quero. Se afirmar dentro da área de atuação deve ser a melhor sensação do mundo. Aliás, não, têm sensações melhores com certeza, mas deve ser do caralho trabalhar e pensar "porra, que massa isso que eu faço". Impossível ser feliz sem uma função, sem sentir que se está sendo útil para alguma coisa. Trabalho, amor, sexo, comida, viagem, viagem (Se repete pela abrangência da denotação. Ver conotação.) amigos, conforto, estudo. Se tiver como ficar melhor do que isso, quero muito experimentar.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

28-VIII-2009

Hoje despertei antes do despertador. O dia amanheceu bonito, os graus celsius têm entrado na casa dos vinte e poucos e têm entrado de mansinho pela minha persiana, é delicioso poder dormir de janela aberta. Meu último dia hoje, na agência. Minha primeira demissão, é delicioso poder se demitir. Aí novinha, quer pegar prestígio? Aí novinha, quer pegar prestígio? Senta no colo do DJ, vai!, anunciou meu celular. Hora de levantar. Embora eu não quisesse. Nem levantar e nem sentar no colo do DJ, mas enfim, é ótimo de acordar com o DJ Baconzitos, dificilmente se consegue ignorá-lo e voltar a dormir. Banho, chinelo, café, torradeira, Otto, secador, outfit, carteira, MP4, rua. A seqüência é sempre a mesma.
Limpei minha mesinha. Tirei o Pingu que tinha em cima do meu monitor, o Magic Duende de cabelo laranja, hit dos anos 90, de cima do CPU e alguns brindes de kinderovo que estavam por ali zuando nas caixinhas de som. Minha gaveta de esmaltes, lixa, cortador de unha, gloss, Fumentol, pinça, algodão, acetona, pantufas, balas 7 belo, entre outros, também foi esvaziada. Que coisa. Eu mando agora um abraço pros convivas.
A secretária, tão querida e tão menosprezada por mim, chorou. Meu colega, tão boa pessoa e tão escurraçado por mim, "vê se aparece, Silvia". Meu sub-chefe, tantas ideologias e crenças que eu sempre botava em questão, me abraçou. Meu chefe... bem, meu chefe não estava lá, mas a parte mais triste foi com ele mesmo, "boa sorte pra ti, então, gata, que tudo dê certo na tua nova agência, azar o nosso...", disse ele, quando informei que aquela era minha última semana, olhando para sua mesa, sem me encarar nos olhos.
Baconzitos está certo. Sou novinha e quero pegar prestígio. Não no colo do DJ, sempre se encontram outras maneiras, mas enfim, a Sapucaí é longa demais para nos prendermos onde os acalentos se estancam.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

smells like teen spirit

Então. Tá aí algo que eu nutro: lentilha tem cheiro de maconha. Eu, no auge da minha inocência, aos treze ("porque nem todo mundo era junkybitch"), na Redenção, indo andar de pedalinho. Nossa, pensava eu, que cheiro de lentilha! Sempre achei estranho alguém se dar ao trabalho de ir para a Redenção preparar lentilha. Mas iam. E eu achava aquilo bacana, mó saudável. Cresci com essa convicção, até que a vida me corrompeu.
Certo dia me dei conta de que aquele cheiro da infância - adoro sentir cheiros da infância! - era, na verdade, outra coisa verde e natural que não lentilha. Me senti meio boba, mas aí avaliei: os cheiros são muito parecidos. Juro. Ou são plantas de um mesmo filo (?!), ou rolava uma cannabis cabreira na lentilha lá de casa, ou misturam lentilha na maconha, fingir que são as sementes esmugadas, eu sei lá. Eis que me convenci de que o cheiro é muito parecido sim.
Na sapiência de minha maturidade, percebi que aquele fato era digno de estudo, fez-se necessária a proliferação da descoberta, precisava fazer algo em relação a aquilo. Aí fui lá e fiz uma comunidade no orkut. "Lentilha Tem Cheiro de Maconha". Atingiu sete membros em seu apogeu, vendo o sucesso e o potencial da comunidade, um tal de "Paulo Rennó" a roubou para ser moderador. Nunca quis devolver, sob meus insistentes pedidos. Hoje ela é uma próspera comunidade de cinco membros, e um único tópico de discussão intitulado "Casaco rima com travesseiro".
Sabe, a sensação de complitude e missão cumprida no mundo, às vezes, pode ser tão fácil de atingir...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

lejos

É uma vontade incontida e gritante de estar em um ambiente onde eu me sinta burra, onde eu sinta que meu conhecimento é nada e que eu preciso estar em constante aprendizado para caso algum dia eu queira ser alguém na vida. É uma vontade que me range os dentes, que me treme os braços por precisar segurar certos bravejos, dos quais tenho certeza que me arrependeria. É uma vontade imensa, o foda é isso, uma vontade imponderada de sair batendo a porta e frisando os defeitos alheios de forma exagerada, de forma odiosa, de forma que fique em cada um deles pelo resto de suas vidas, e que essa seja toda baseada em corrigi-los, em permanecer dentro de um constante aprimoramento. Gritar, chamar de todos os adjetivos que depreciem a capacidade do intelecto. Fazer isso sem pensar, sem olhar para trás e tentar não sentir nada depois. Sem arrependimentos, sem noites mal dormidas. Quando se chega a tal ponto, talvez é porque haja um merecimento. Ninguém está na posição de julgar ninguém, mas não é possível estar tão aquém do que eu considero "razoável". O meio influencia o ser humano, do mesmo jeito que crescemos com quem mais experiência tem, em determinada área, diminuimos com pessoas que ainda têm muito o que perceber...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

anexo


O quadrinho faz referência ao post anterior, mas é uma referência leve, quase tangente. Por isso, os posts separados. E ah, sim, Liniers novamente. Adoro ele, só nunca tinha postado pois não tinha saco de escanear, aí há pouco um amigo passou o link de ouro com vários quadrinhos dele. O link está num post mais abaixo, só pegar ali.
Gracias, Bomja!

Ensaio sobre a cegueira, sobre o incerto e sobre os sushis

Três considerações iniciais, sendo a primeira explicativa das duas seguintes e, a soma das três, introdutivas ao post em si. Segue o baile.
1. Melleu, minha amiga que, segundo minha irmã, não é uma pessoa, mas sim um "happening", certa vez, telefonou para a Muralha da China e solicitou dois rolinhos primavera e quinze sushis de OMELETE. Eu olhei pra ela "quinze sushis de omelete?!", e ela "calma, amiga. vai fazer sentido" - e seguiu o pedido. E, realmente, a composição com os outros ítens chineses alimentícios fez sentido. Melleu, assim como eu e o Torquato Neto, desafinamos o coro dos contentes.
2.1. Júlia é outra amiga minha, mas essa de mais longa data. Júlia é perspicaz, uma guria linda, esforçada e dificílima de irritar. Talvez ela me leve de volta às origens, talvez ela passe uma certa proteção, a que tínhamos quando menores. Não sei, mas calma, amiga. Vai fazer sentido.
2.2. Sou míope. Agora talvez tenha aumentado, mas tenho quatro e pouco em cada olho, e uma pitadinha de astigmatismo. Sou bem míope. Completamente míope. Talvez não tanto assim, para quem é mais míope do que eu, sou mera amadora; mas, para quem tem olhos de lince... olhos de lince? Bem, vai se tratar, porque isso com certeza não é normal.

Sonhei que estava na beira do mar, comendo sagu em uma pequena 'cumbuca', e Júlia estava comigo. Estávamos rindo e enchendo a cara de sagu quando, de repente, veio uma onda. Mas assim, tsunami na velocidade cinco do créu. Estávamos deitadas, de bruços, nem tínhamos muito como reagir, porém, algo incrível aconteceu. A onda veio, foi, aí veio de novo, foi, repuxo, onda, e tudo isso por cima de nós, era como se fosse um cobertor, era como se a água fosse maleável, porém sólida. Ela ia e voltava, às vezes víamos o céu claro, entravam raios de sol por entre as ondas, aí escurecia e clareava novamente. Nós ali, vendo aquilo acontecer e comendo sagu, era incrível. E nem molhadas estávamos, a água não nos empurrava, apenas curtíamos o sagu e a maravilha que estava acontecendo.

Foi quando me dei conta de que, na primeira enxurrada de água, meu óculos tinha sumido. Talvez ele não seja imune à água como eu, pensei. Estranho. Eu o via, um borrão a uns dois metros de distância. Começou a me bater um desespero, pois eu não conseguia alcançá-lo; quando ia pegar, a água o mudava de posição. Não enxergar com nitidez é péssimo. Aliás, reformulo: não enxergar com nitidez é ótimo. Geralmente, quando estou pintando ou desenhando, tiro os óculos, pois dá um ar impressionista para as coisas, mas aí é só colocá-los de novo. Agora ficar sem os óculos e sem a opção de tê-los novamente, aí sim, é péssimo.

Júlia me olhou e disse "Silvia, calma". Eu olhei para ela e ela estava nítida. Foi estranho. De repente, tudo estava nítido, e eu estava sem óculos. Podia até vê-lo, ali, longe, e enxergava cada detalhe. Era como se ali, no milagre das águas e dos sagus, houvesse ocorrido o milagre da cegueta. Um lance meio Locke na ilha de Lost assim. Aí, ainda no sonho, me bateu a dúvida: teria sido o meio, ou teria sido a Júlia? Ela seguia comendo sagu, tranqüilamente, deitada e sorrindo, como fazíamos quando crianças, sem nenhuma preocupação, sem nenhuma tensão nos músculos das costas. Éramos tranqüilas, com uma infância feliz. Aliás, era assim com todos os meus amigos na época. Éramos felizes e calmos, os problemas eram pequenos e de fácil resolução. Eu entrei em desespero por alguns instantes e logo Júlia, que talvez estivesse ali como uma representação do meu passado seguro e quentinho, disse "calma", e tudo se resolveu. Se eu não poderia acessar os óculos, eu simplesmente não teria mais miopia. Simples.

Talvez seja isso, uma saudades do tempo em que a vida era mais fácil. Não que ela seja muito difícil agora, mas os problemas tomam novas proporções. Mesmo assim, temos essas pessoas e esses elementos nas nossas vidas, que vão sempre nos recordar de que a "maré alta" vai passar, e, mesmo debaixo dela, podemos tentar resolver as tretas com facilidade. É um porto seguro, é uma certeza, por mais incerta que pareça, de que as coisas vão e voltam, acontecem e passam, e nós estamos ali, segurando firme. Seja a situação, seja uns aos outros. Os sonhos, as idéias, os problemas e tudo mais o que vier a acontecer, assim como os quinze sushis de omelete, uma hora ou outra, farão sentido.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

a strange under my umbrella

Tarde fria, chuva fina, e eu a esperar. Condução pra ir pro centro, mas sem encontrar. Um problema de aparente e fácil solução.

Meu guarda-chuva é grande. Morcegão assim, que cabe uma pá de gente embaixo, desses que tu carregas desconfortavelmente e bate nas pessoas sem querer. Ele não é exatamente ergonômico fechado, mas é muito ergonômico aberto. É bom de segurar, me cobre bem, não deixa molhar sequer minhas pastas, esqueci ele num orelhão. Damn it.

Estava no telefone público - algo que Blair desaprovaria, mas enfim - com o morcegão encostado, saquei meu cartão de vinte unidades e fui telefonar. A chuva caía fina, quase imperceptível. Não havia aberto o paraguas ainda, talvez por isso não senti falta quando, após o frustrante telefonema, saí reto, sem olhar para trás. Coitadinho, ficou ali, parado, me esperando voltar. Só me dei conta quando já estava há uns dez minutos no ônibus, ao ver uma senhora e sua sombrinha vermelha. As duas estavam tão lindas juntas, e ela delicadamente acomodava sua sombrinha em uma roupinha de mesmo tecido. Fui dar um abracinho afetuoso em meu lindo guarda-chuva, "ainda bem que eu tenho o m... opa! merrrrda".

Aí fiquei pensando, enquanto passava na frente de uma farmácia que é cliente da agência aqui e via os encartes que fiz com tanto amor e carinho serem molhados pela chuva: o que acontece com os guarda-chuvas que perdemos? Na boa, todo mundo já perdeu um guarda-chuva. Impossível nunca ter esquecido um em algum lugar qualquer. Pode até ter recuperado depois, o mesmo ou uma réplica, mas não há como não perdê-los. E quem os encontra? Eu nunca encontrei um guarda-chuva. Imagine só que conveniente, estava chovendo e eu esqueci o meu lindamente apoiado, em plena via pública. Quem achou é muito sortudo. Aliás, quem ganhou a mega-sena acumulada em 56 milhões sim que é muito sortudo, quem achou o meu guarda-chuva apenas achou o meu guarda-chuva, no big deal. O foda é que era um big deal pra mim. Meu pai até amarrou uma cordinha marrom nele, para eu poder pendurá-lo. Agora perdi ele e a cordinha. Uma pena.

Nem tanto valor monetário, mas um certo valor sentimental perdido em átimos de descuido. Não sou de perder minhas coisas, só quando estou de cabeça cheia, talvez por isso me sinta tão mal quando perca. E também porque está chovendo pra caramba e eu estou sem guarda-chuva. Acho que não perco minhas coisas pela maneira que eu fui criada: PARANÓIA. Não existe ninguém mais "noiado" do que Dona Liliane, a.k.a, Mama. Mama sempre me diz para eu cuidar das minhas coisas, para eu mantê-las perto de mim, para eu nunca deixá-las sozinhas. Acabei criando fios imaginários que ligam tudo o que está na minha bolsa a mim. É sério, se eu esqueço de algo, uma chave que seja, começo a sentir uma angústia, um puxãozinho; logo me dou conta, é o fio. Aí volto e pego de volta. Talvez o fio do guarda-chuva tenha arrebentado. Ou alguém cortou. Espero não sair daqui e ver algum qualquer usando meu lindo paraguas. Pediria de volta com educação, senão, parto pra ignorância, saio no tapa. Adoro. Não sei como vou embora se a chuva seguir. Suspiro.

eso pasó...



Liniers

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

HJ

Trabalho de frente para uma janela. Na verdade, trabalho de frente para um computador, mas, atrás dele, há uma janela, dessas bem grandes. Mera questão de posicionamento, mas enfim. Nessa janela, vejo várias janelinhas. Dependendo da posição, dá para ver vinte janelinhas e três basculantes. Dependendo da minha posição e da posição do CPU da outra mesa que tapa parte do cenário, mera questão de campo de visão, mas enfim. Há pouco passaram uns três dias com guindastes ali, limpando o prédio com jatos de água, aí me dei conta de que ele não era tão sujo assim, parte da sujeira é da nossa janela aqui. Mas com a brancura do prédio, eu me dei conta de uma coisa. Ele é uma história em quadrinhos. Com a diferença de que não é uma história em quadrinhos seqüencial, mas sim, cada quadrinho é uma história, sem fim previsto.

É bacana ver a vida passar, só não sei se é bacana ver a vida alheia passar. Talvez seja meio triste, mas fazemos isso tanto, seja na frente da televisão, seja na frente de janelas... Nas basculantes, geralmente nada acontece. As pessoas devem tomar banho atrás delas, então, supostamente, devem ser as janelas mais interessantes, porém nunca são abertas. Nas outras vinte janelas que cabem no meu campo, pessoas passam, penduram roupas, fumam, se apoiam e admiram o nada por um certo tempo. Aí elas voltam, recolhem roupas, jogam bitucas, se desapóiam e deixam de admirar o nada por um certo tempo. E o ciclo se repete. A vida é tão cíclica. Sempre voltamos a fazer as coisas, talvez em ordens diferentes, o que não deixa o cíclico linear, mas sempre voltamos. Coisas novas são acrescentadas, às vezes, e coisas velhas são excluídas. O que não impede o ciclo de continuar.

Eles não nos vêem. Meu sub-chefe disse que, há um tempo já, eles colocaram insufilm. Acho sem graça, me sinto um quadrinho nulo. Parece que nada acontece aqui dentro, já que somos um quadrinho preto, um quadrinho sem fusíveis, um quadrinho "BAM POW SOC", onde nada acontece, a não ser fumaça. Aí lembro daquele quadrinho do Mutarelli "essa casa é tão grande, e só aocntece o que eu faço". Nas janelinhas, só acontece o que as pintas fazem, se elas não estão em casa, o quadrinho pára. Algumas passam o dia sem fazer história, talvez estejam fazendo histórias em outros cubículos, como eu estou fazendo aqui, agora. Alguns têm cortinas, outros não. Ninguém nunca faz nada de espetacular. Seria bacana ver um assassinato por de trás do anonimato do insufilm, ou um casal trepando furiosamente, sob o voyeurismo do insufilm. Mas nada de muito espetacular acontece. As pessoas passam, penduram roupas, fumam, se apoiam e admiram o nada por um certo tempo. Aí elas voltam.

Nos dias de chuva o dia fica escuro, e a única coisa que eu vejo na janela é uma figura com ar de desânimo, que me olha de volta e assim ficamos, tristes, olhando uma para a outra. A parte de trás do insufilm reflete bastante. A vida não passa muito de uma história em quadrinhos mesmo. Somos nossos próprios personagens e temos nossos próprios coadjuvantes. Se erramos, passamos por cima. Alguns rabiscam mais, alguns são mais noir, alguns têm traços mais limpos, uns são coloridos, outros são PB, e a vida continua. Cada um no seu quadrinho, cada um com a sua janela.

Beauty and the Geek, season 7

quem, eu?

hoje quis escrever um soneto
um lindo soneto sobre amor
digitei no google "terceto"
para aprender a fazê-lo, com louvor

o google me disse, entre sites diversos
que não se pode dizer a um poeta
"seja metódico em seus versos"
arranje um jeito, com papel, com caneta

tentei não mais focar na trepada
"ei de tomar algum tino!"
mas logo me frustrei, em plena madrugada
pois nada forma um verso alexandrino

caraio, mano, mil fita na jogada
vô parar de embaçá e dá logo a tal bimbada




and cica knows what i mean.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Gangue da Escadaria (do playground)

A agência onde eu trabalho fica relativamente perto da minha casa. Perto, a.k.a 4 quadras, acaba ficando "relativo" porque são 4 quadras verticais, moro no morro côs truta e quem pipocá c'agente leva azeitona. Então, é um trajeto que poderia ser feito em 6 minutos com meus um metro e poucos de perna, mas acaba levando uns vinte, ainda mais com esse meu pulmão de fumante e essa minha boa disposição de um cadeirante de 90 anos. Nesses vinte minutos de reflexão latitudinal muita coisa acontece, seja na subida, seja na descida. Na real, na descida, é só engatar um "uoou quase embolotei" e ser feliz, geralmente dá uma distância de uma música e meia no MP4. Músicas no MP4 são uma ótima medida de distância no meio urbano.

Dia desses, talvez há uns meses atrás, mas afinal, quem está contando, não é mesmo?, acordei com a brilhante idéia de usar a camisa de flanela do namorado como vestido e, já que estava frio, tascar uma meia-calça preta e algumas pérolas. Acho até que já falei disso aqui no blog, juntei com as melissas douradas com as meias pretas 7/8, e vergonha alheia à parte, era a época em que eu estava ouvindo direto "womanizer", ou seja, me joguei. Montei o outfit e fui pro trabalho. Como é de domínio público, Gisele Bündchen não teria chegado onde chegou se não fosse pelo caminhar. Fiz a Gisele. Só faço a Gisele quando estou sozinha caminhando pelo centro de óculos escuro, mas resolvi abrir uma exceção. Oito e freaking meia da manhã lá estava eu, de camisa e sapatilhas, descendo morro abaixo pisando em uma única linha imaginária, fazendo carão e tipos que womanizer, woman-womanizer, you're a womanizer, oh!, womanizer, oh-you're a womanizer baby, you, you-you aaare! you, you-you aaare, womanizer, womanizer, womanizer, woomaniizer (voz do Darth Vader nessa última). Cuándo, de repente, de trás de un árbol, se aparece el.

Olhei furtivamente para o chão pra ver se minhas passadas condiziam com a linha imaginária e, eis que surge então, a seguinte palavra, mal e porcamente rabiscada a giz no chão: "Idiota". Putz, cortou total o meu barato. Antes eu estava me sentindo o máximo ao som de Brit, agora eu era apenas uma menina vestida de lenhadora ouvindo some crap music. "Idiota". Ficou ali, me encarando. Brutality. K.O. Terrível. Fui triste, me arrastando até o trabalho.

Com o tempo, comecei a reparar: entre meu trabalho e minha casa há muito giz. Haviam linhas nas paredes que iam acompanhando durante alguns metros, haviam declarações, corações, nomes e eu particularmente tive uma certa dificuldade para decifrar alguns hieroglifos hititas, mas beleza. Não duravam muito tempo, questão de dois dias estavam apagados e, aí, surgiam mais. Eles sumiam, mas reapareciam - e traziam reforços! Me sentia numa história em quadrinhos com aquela quantidade de rabiscos ao meu redor. O "Idiota" deve ter durado três dias no chão - e eternidades na minha alma.

Uma vez eu ia subindo, o dia estava tranqüilo e sereno que nem baile de moreno, e avistei, ao longe, uma gangue descendo. Logo me apavorei, mas percebi que o que os diminuía não era o horizonte, mas sim, seus poucos dígitos de idade. Sou suspeita para falar, não sei diferenciar uma criança de 5 anos de uma de dez, mas imagino que aquelas ali deveriam ter em torno disso, a mais experiente deveria ter doze, no máximo. Eles vinham como verdadeiros hititas, com suas armaduras espalhando hieroglifos por aí. Gelei. Já tenho medo de criança, imagine só de um aglomerado delas, munidas de giz. Foi aí que as coisas fizeram sentido: só crianças mesmo para rabiscar besteiras com giz, só crianças mesmo para gastar um giz inteiro levando ele por metros contra uma parede, só crianças mesmo para escrever "fulano é imbessil". É, ou não, mas enfim.

Desfiz a Gisele porcausa de crianças. Parei com a Brit porcausa de crianças. Tirei o carão porcausa de crianças. Tá certo que ameaçadoras e re llenas de sulfato de cálcio hemihidratado, mas vá lá. A vida é dura. Por enquanto só estou sendo salva pela H1N1 e sua suspensão de aulas...

terça-feira, 16 de junho de 2009

o estranho sentido que as coisas fazem

Chegamos ao ponto eqüidistante dos extremos de Junho e só agora pude me deleitar da linda edição da Vogue do mês. Linda, linda mesmo. Que capa, que Fontana, que alegria. É como qualquer identidade visual bem construída: de cara dá pra entender o que se quer comunicar graficamente. A capa condiz com toda a étnica e o rústico dos editoriais, maravilha de ler no quentinho das cobertas, com um chá na cabeceira. Aí lembrei da Vogue de Maio, e de como eu não fui com a cara da Vogue de Maio.

A Vogue de Maio é um caso à parte, merece qualquer parágrafo e qualquer discussão. Comentei que eu não tinha gostado da capa, obtive concordância, de segundos e terceiros também, a opinião geral do meu pequeno círculo pareceu a mesma. “Ah, não gostei muito”. Nessas de respostas sem maiores justificativas, consultei o Oráculo. Clarissa Pont limitou-se a dizer “é, pois é, a Isa também não gostou muito, mas eu... sabe, eu acho que a Vogue sempre tem um objetivo, um propósito, quando a gente não gosta é porque ainda não entendeu muito bem”. Maravilhosa, conselheira, mãe da eternidade, princesa da paz. E é verdade, aquela capa queria dizer algo, era gritante, só faltavam olhos perceptivos, mentes cognitivas, um tino sagaz.

Há um mês vinha eu, linda e loura (NOT), desfilando pela José de Alencar atrás de edição “maionina”, eis que me deparo com aquele exagero, aquele background monumental, aquelas pessoas passando ao fundo, aquela mulher numa posição colossal, uma capa carregada, movimento, expressão. “Meldels”, limitei-me. Meu namorado, do alto da sua ingenuidade, sorriu para a capa e disse “Olha, é no Morumbi”. Olhei de canto para ele com meu mau-humor que talvez só ele saiba lidar, no auge da minha expressão “Who cares?”, e odiei a capa baixinho.

Descascando a revista aos pouquinhos, depois da habitual olhada-geral-nas-figuras, fui percebendo o encaixe. A Carta comenta a inspiração Blade Runner do editorial principal, com a Michelle Alves fotografada pelo Steven Klein e o styling do Pedro Lourenço. A temática principal da edição de Maio nada mais era do que esse exagero mesmo, “silhueta justa, tachas, couro, muito preto”. Cintura marcada, ombros abusivos e texturas nos tecidos. Até o outro editorial do Pedro Lourenço, por mais elegante que seja, mantém essa linha com os drapeados, o amarrado, o torcido. A Vogue de Maio nada mais é do que expressionista. Pronto, agora sim, tudo parecia fazer sentido. O Morumbi gigantesco ao fundo, Michelle num ângulo violento e meio robotizada, o contraste entre a figura do primeiro plano com o fundo que se perde, o jogo de luz, tudo evocando a mais linda e sincera fúria, como talvez nenhum outro movimento de vanguarda artística evoque.

Linda e sincera fúria, fúria expressionista. Ah, Vogue, perdão... por um instante esqueci que certas coisas não se lêem, se compreendem.



quarta-feira, 10 de junho de 2009

espalhar os encosto e as maldade

Na boa, se antes de ilustrar o inferno Doré tivesse pego um 263 às 18:30h, ali pela altura da Azenha, numa tarde chuvosa (ou pior ainda, de sol) carregando uma pasta A3, ele talvez compreenderia melhor o teor retesado de Alighieri...
A pinta acorda cedo, vai lá, na mais santa boa vontade, trabalha a manhã inteira, agüenta as eventuais travinhas do CS3 e os clientes que têm opiniões demais. Mas ah, tudo bem, c'est la vie. Corre o horário de almoço inteiro pelo centro, na chuva, resolve perrengues, estraga o cabelo e molha a linda bota que não tinha culpa de nada. Enfim, vá lá, beleza. Chega atrasada à tarde para, além de elaborar layouts, elaborar desculpas esfarrapadas. Veja só, ó céus, ó vida. Mais clientes de péssimo tom, mais perrengues. O CorelDraw resolve travar junto. Que coisa, né, deixa pra lá, tudo bem. Último dia da pílula, aquela leve atucanação durante a trepada furiosa, mas ah, que coisa, acontece.
Agora meu, compreensão tem limites. Não dá pra pegar aquele ônibus, depois de um dia desses, e querer ser feliz. Não dá. Sério, eu vejo uma bala perdida atravessando meu crânio, o sangue vermelho respingando na pashmina creme, o horror ao redor, meus joelhos cedem, esvaio-me em pleno chão, com uma leve expressão de complitude... abro o olho e me dou conta de que ainda estou no Orfanatrófio 263 Centro-Bairro lotado, de pé, mil trutas, mil tretas, carregando mil coisas e sem um pingo de paciência.

Damn it.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Acostumbráu

Limpo o ranho com as mãos, de preguiça mesmo. Gripada ainda e, agora, a dor de ouvido e a dor de cabeça ao se abaixar (ou trepar por cima) vieram ver como eu ando. Mal, pero acostumbráu. No frio a gente diminui, as extremidades afinam e os anticorpos fragilizam. Tenho sentido o diminuto bater mais forte em mim. Nunca fui de emagrecer, nunca fui pequena. Na fila para cantar o hino na segunda série eu sempre era a última. Até no nome, "Silvia", sempre fui a última das chamadas. Mas, agora, a história começa a mudar um pouco. Tenho diminuído. Achava ter mais de um e oitenta, sempre afirmei, mas minha endócrino me disse um e setenta e oito. Ela também disse que a massa de gordura diminuiu, assim como o peso, e a água corporal aumentou. Veja só... Mas não é só assim que eu me sinto menor. Essa coisa de correr, de não ter tempo pra mais nada, nunca tive isso. Agora estou sempre com pressa, esbarro nos outros, pego táxi, vou direto nas estantes da biblioteca sem consultar nas máquinas antes por medo de perder algum livro em frações de segundo. Antes eu me sentia dona da faculdade, agora me sinto uma estranha. Só vou lá para cumprir o que se deve cumprir e vou embora, sem maiores sorrisos. Antes eu sentava na rua, fumava, fazia o social, ria alto. Agora meus intervalos são sucintos e as carterias são as mais perto do professor. Me sinto fraca e um pouco cega. Talvez já não tenha todos os amigos que eu achava que tinha, por falta de convivência. Já não me sinto mais tão bem na presença de quem costumava me entreter. Talvez a vida seja assim mesmo, esse difícil equilíbrio entre pessoas, labuta, conhecimento, uma eterna busca. Não sei quem é mais hostil, nem sei quem é culpado. Me aqueço com chá e com abraço, mas sigo diminuindo. Minhas resistências morais se abalam com esses graus celsius de baixos dígitos...

cento e oitenta segundos

Nada de novo, chove em Porto Alegre. Tô gripada e sonhei a noite toda com o CorelDraw, juro. Ultimamente tenho estado bem obsessiva com grids e linhas-guia. Acontece bastante de eu estar andando pelo cotidiano e ver algo não alinhado, seja uma janela, seja um banner, seleciono os ítens com os olhos, dou um "E" ou um "C" (ou ambos), aí CTRL+A, CTRL+G e um P, só de capricho. Suspiro aliviada. Olho em volta, se estou dentro do ônibus, tem sempre alguém me olhando estranho. Eu talvez faça os atalhos em um teclado imaginário, mas enfim, cada um com seus problemas.
Nesse clima chuvoso resolvi trazer o Charlie, o Chet, o Thelonious e o Louis para o trabalho, achei que eles iriam se divertir comigo e o Corel. Ia trazer o Nat junto, mas ter que fazer fachadas de farmácias ao som de "Looove is a many spleeendored thiing" é kind of annoying. Agora há pouco um computador parou de funcionar e CPUs passearam pela sala de criação, isso já é annoying o suficiente. Opa, peraí, acabou de rolar o questionamento "um minuto tem sessenta segundos, né?", vindo da secretária. We have a winner. Ainda bem que eu estou praticamente sem voz, mesmo prezando pela doutrina de "perco a convivência, mas não perco a piada".
Três minutos, me avisa o microondas da cozinha-inha. Chá pronto, jazz e uma hora e meia ainda de alterações em fachadas... story of my life.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

andes meets post meets não-linear

Se eu não me engano, ontem o popmatapoesia, a.k.a blog velho, completou 6 anos, e é nesse ritmo de desapego que vou tirá-lo do ar. Pegar alguns posts antigos e repostar, uns bem vergonha alheia, à la "caí e perdi meu dente correndo atrás do bus". Sad, but true.

Tô aqui no trabalho agora, tomando chá de hortelã e falando bobagem no msn. Mil fita acontecendo e eu aqui, cursando a Escola Fogaça de Fazer Tudo na Última Hora pra Impressionar. Mas é que sabe, a pinta já precisa acordar cedo na boa vontade, tomar banho, fazer café no micro, montar um outfit condizente e ainda fazer os corres no pacote Adobe, tem que ter disposição no créu pra tudo isso. É válido esse momento de incubação voluntária para uma melhor performance com as solicitações de desenhos de comunicação visual da clientela.

Enquanto a Sapucaí alonga e não me repassam nenhum e-mail, segue tororó de palpites das tendências invernianas deste grande inconsciente coletivo que rola entre eu, minha irmã e a crew Carta (por uma moda menos ordinária e mais nacional).

C. Pont diz:
criei uma nova abordagem pra o inverno

C. Pont diz:
que vai abalar as estruturas preppy do mundo

C. Pont diz:
uma coisa andes meets serena meets bom fim meets bicicleta

C. Pont diz:
meets releituras de sex and the city

menina de meia-estação diz:
adoro

menina de meia-estação diz:
uma coisa meio Pat Field mascando folhas de coca

C. Pont diz:
sabe aquela minha bota comprada numa loja de asunción feita à mão para atravessar os andes?

C. Pont diz:
pois... neste inverno ela será usada com meias alta de lã grossa meio jogadas, de preferência em cinza ou xadrez

C. Pont diz:
com bermudas, shorts e vestidos neoromânticos

C. Pont diz:
com casacos pesados

menina de meia-estação diz:
tudo isso em cima de uma bici chanel?

C. Pont diz:
exato

menina de meia-estação diz:
com vogues e bebês andinos na cestinha

C. Pont diz:
ontem, eu tava de shortinho, bota preta, sobreposição de camisetas brancas

menina de meia-estação diz:
acho sobreposição de camisetas brancas o máximo

C. Pont diz:
e meu casacão daniel cassan xadrez por cima

menina de meia-estação diz:
falando nisso, o must have da estação é a camisa de flanela compridinha do namorado. jogada com uma meia calça preta, umas pérolas, uma carteira de mão e anéis abusivos. tendência, luxo, glamour, cobiça.

C. Pont diz:
me empresta umas pérolas, puta

menina de meia-estação diz:
acho que o inverno pede um pequeno sacrifício de nós humanas, mas por uma boa causa: trechos de perna aparecendo, seja com botas, seja com meias 3/4 ou 7/8...

C. Pont diz:
sem dúvida, é bem importante.

domingo, 22 de março de 2009

laissez faire, c'est la vie

Cansei do blog anterior. Layout chinelo, arquivos comprometedores e meu passado acumulado em poucos pixels, meio deprimente. Me soa algo como um game-boy sem ser color. Ou a Chloë Sevigny mal vestida, sei lá. Março novo, vida nova, vamos-nos que a Sapucaí é longa, mon ami.