segunda-feira, 22 de agosto de 2011

marlborohm shanti

- Tchau!
- Tá indo onde, guria?
- Pra yoga!

Meu pai só revirou os olhos e, cretinamente, deu um sorriso de canto. Não vi a cena, já tinha fechado a porta, mas tenho certeza que ele a fez. Assim como todas as coisas que eu invento de fazer, me animo no começo e lá pelas tantas acabo desistindo. Meus pais já viram isso acontecer algumas vezes, durante 21 anos. Ginástica olímpica, natação, piano, judô, corrida, academia, enfim. O fato é que, agora, senti a extrema necessidade de fazer algo que me ensinasse a respirar melhor e a ter uma postura correta, já que respiro que nem o Chewbacca e tenho a coluna de uma velha reumática. Extrema necessidade de levar uma vida melhor. Coloquei meu outfit ginástica, que consiste em uma regata preta, uma camisetona jogada com o ombro de fora, uma calça furada na bunda e o tênis nike e fuzil. Porque né, a pessoa se exercita em 1980. Na bolsa, as chaves, o cigarro, a identidade, o tri e a carteirinha da unimed, a gente nunca sabe quando a yoga pode nos matar.

Três meninas estavam sentadas em esteiras aguardando a instrutora. Todas em uma postura perfeita e de olhos fechados, concentradas em algo muito maior do que a minha capacidade pudesse compreender. Magras, é claro. Me senti, por um átimo de segundo, UM LIXO. Eu não fazia ideia do que me aguardava. Não sabia como sentar, não sabia o que fazer com as mãos, não sabia se eu deveria estar pensando em algo específico. Peguei uma esteira e me sentei ao fundo, tentei não me fazer percebida. Acho que um animal desastrado de 1,80m que nem eu chama mais atenção quando se esforça para passar desapercebido do que ao natural, mas enfim. Logo, chegou a instrutora. Uma mulher mais velha, aparentemente muito centrada. Ligou o som, uma dessas músicas que a gente ouve em lojas de artigos indianos, começou a calmamente dar instruções e a falar coisas de yoga (sou tão ignorante no assunto que não posso nem remeter a um termo).

Lá pelas tantas, me senti muito confortável ali. Concentrada no que estava fazendo, confiando na respiração e sentindo partes do corpo que nem sabia que eram "sentíveis". Sempre fui bastante flexível, apesar de estar um tanto acima do meu peso ideal. Encostar as mãos nos pés sem dobrar os joelhos e lamber o cotovelo nunca foram um problema para mim. O meu problema é a resistência. Como a coisa consiste muito mais em manter as posições do que em repeti-las, tiveram momentos de grande dificuldade. Por exemplo, uma das meninas estava tirando a posição invertida de letra, ela fazia hábeis movimentos com extrema graciosidade e naturalidade. Eu parecia um tatu-bolinha com o casco virado. Acho que, com o tempo, essas coisas melhoram, o fato é que saí de lá me sentindo muito bem.

A primeira coisa que fiz, claro, foi acender um cigarro. Invoquei a energia através do mantra marlboroooohmmmm. Sei que não deveria dizer isso, mas o cigarro foi ótimo depois da yoga. Deve ter sido aquela respiração toda, meu corpo estava renovado e a fumaça entrou com a plenitude de uma virgindade sendo deturpada. Naquele instante, fiz algo que já me vi fazendo várias vezes nesses 21 anos: "esse é o último". Assim como desisti da ginástica olímpica, da natação, do piano, do judô, da corrida e da academia, agora desistiria do cigarro. Já até perdi a fé, sempre digo que vou parar, jogo a carteira fora, no dia seguinte estou comprando um avulso para então comprar um maço. Mas aí penso, de que adianta eu estar fazendo essa renovação toda se vou continuar me estragando? Se a idéia é viver melhor, então que eu viva melhor na sua totalidade. Espero que dure, espero que eu desista do que me faz mal e siga acreditando no que me faz bem. Mesmo que, para isso, eu precise parecer um tatu-bolinha.