sexta-feira, 28 de agosto de 2009

28-VIII-2009

Hoje despertei antes do despertador. O dia amanheceu bonito, os graus celsius têm entrado na casa dos vinte e poucos e têm entrado de mansinho pela minha persiana, é delicioso poder dormir de janela aberta. Meu último dia hoje, na agência. Minha primeira demissão, é delicioso poder se demitir. Aí novinha, quer pegar prestígio? Aí novinha, quer pegar prestígio? Senta no colo do DJ, vai!, anunciou meu celular. Hora de levantar. Embora eu não quisesse. Nem levantar e nem sentar no colo do DJ, mas enfim, é ótimo de acordar com o DJ Baconzitos, dificilmente se consegue ignorá-lo e voltar a dormir. Banho, chinelo, café, torradeira, Otto, secador, outfit, carteira, MP4, rua. A seqüência é sempre a mesma.
Limpei minha mesinha. Tirei o Pingu que tinha em cima do meu monitor, o Magic Duende de cabelo laranja, hit dos anos 90, de cima do CPU e alguns brindes de kinderovo que estavam por ali zuando nas caixinhas de som. Minha gaveta de esmaltes, lixa, cortador de unha, gloss, Fumentol, pinça, algodão, acetona, pantufas, balas 7 belo, entre outros, também foi esvaziada. Que coisa. Eu mando agora um abraço pros convivas.
A secretária, tão querida e tão menosprezada por mim, chorou. Meu colega, tão boa pessoa e tão escurraçado por mim, "vê se aparece, Silvia". Meu sub-chefe, tantas ideologias e crenças que eu sempre botava em questão, me abraçou. Meu chefe... bem, meu chefe não estava lá, mas a parte mais triste foi com ele mesmo, "boa sorte pra ti, então, gata, que tudo dê certo na tua nova agência, azar o nosso...", disse ele, quando informei que aquela era minha última semana, olhando para sua mesa, sem me encarar nos olhos.
Baconzitos está certo. Sou novinha e quero pegar prestígio. Não no colo do DJ, sempre se encontram outras maneiras, mas enfim, a Sapucaí é longa demais para nos prendermos onde os acalentos se estancam.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

smells like teen spirit

Então. Tá aí algo que eu nutro: lentilha tem cheiro de maconha. Eu, no auge da minha inocência, aos treze ("porque nem todo mundo era junkybitch"), na Redenção, indo andar de pedalinho. Nossa, pensava eu, que cheiro de lentilha! Sempre achei estranho alguém se dar ao trabalho de ir para a Redenção preparar lentilha. Mas iam. E eu achava aquilo bacana, mó saudável. Cresci com essa convicção, até que a vida me corrompeu.
Certo dia me dei conta de que aquele cheiro da infância - adoro sentir cheiros da infância! - era, na verdade, outra coisa verde e natural que não lentilha. Me senti meio boba, mas aí avaliei: os cheiros são muito parecidos. Juro. Ou são plantas de um mesmo filo (?!), ou rolava uma cannabis cabreira na lentilha lá de casa, ou misturam lentilha na maconha, fingir que são as sementes esmugadas, eu sei lá. Eis que me convenci de que o cheiro é muito parecido sim.
Na sapiência de minha maturidade, percebi que aquele fato era digno de estudo, fez-se necessária a proliferação da descoberta, precisava fazer algo em relação a aquilo. Aí fui lá e fiz uma comunidade no orkut. "Lentilha Tem Cheiro de Maconha". Atingiu sete membros em seu apogeu, vendo o sucesso e o potencial da comunidade, um tal de "Paulo Rennó" a roubou para ser moderador. Nunca quis devolver, sob meus insistentes pedidos. Hoje ela é uma próspera comunidade de cinco membros, e um único tópico de discussão intitulado "Casaco rima com travesseiro".
Sabe, a sensação de complitude e missão cumprida no mundo, às vezes, pode ser tão fácil de atingir...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

lejos

É uma vontade incontida e gritante de estar em um ambiente onde eu me sinta burra, onde eu sinta que meu conhecimento é nada e que eu preciso estar em constante aprendizado para caso algum dia eu queira ser alguém na vida. É uma vontade que me range os dentes, que me treme os braços por precisar segurar certos bravejos, dos quais tenho certeza que me arrependeria. É uma vontade imensa, o foda é isso, uma vontade imponderada de sair batendo a porta e frisando os defeitos alheios de forma exagerada, de forma odiosa, de forma que fique em cada um deles pelo resto de suas vidas, e que essa seja toda baseada em corrigi-los, em permanecer dentro de um constante aprimoramento. Gritar, chamar de todos os adjetivos que depreciem a capacidade do intelecto. Fazer isso sem pensar, sem olhar para trás e tentar não sentir nada depois. Sem arrependimentos, sem noites mal dormidas. Quando se chega a tal ponto, talvez é porque haja um merecimento. Ninguém está na posição de julgar ninguém, mas não é possível estar tão aquém do que eu considero "razoável". O meio influencia o ser humano, do mesmo jeito que crescemos com quem mais experiência tem, em determinada área, diminuimos com pessoas que ainda têm muito o que perceber...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

anexo


O quadrinho faz referência ao post anterior, mas é uma referência leve, quase tangente. Por isso, os posts separados. E ah, sim, Liniers novamente. Adoro ele, só nunca tinha postado pois não tinha saco de escanear, aí há pouco um amigo passou o link de ouro com vários quadrinhos dele. O link está num post mais abaixo, só pegar ali.
Gracias, Bomja!

Ensaio sobre a cegueira, sobre o incerto e sobre os sushis

Três considerações iniciais, sendo a primeira explicativa das duas seguintes e, a soma das três, introdutivas ao post em si. Segue o baile.
1. Melleu, minha amiga que, segundo minha irmã, não é uma pessoa, mas sim um "happening", certa vez, telefonou para a Muralha da China e solicitou dois rolinhos primavera e quinze sushis de OMELETE. Eu olhei pra ela "quinze sushis de omelete?!", e ela "calma, amiga. vai fazer sentido" - e seguiu o pedido. E, realmente, a composição com os outros ítens chineses alimentícios fez sentido. Melleu, assim como eu e o Torquato Neto, desafinamos o coro dos contentes.
2.1. Júlia é outra amiga minha, mas essa de mais longa data. Júlia é perspicaz, uma guria linda, esforçada e dificílima de irritar. Talvez ela me leve de volta às origens, talvez ela passe uma certa proteção, a que tínhamos quando menores. Não sei, mas calma, amiga. Vai fazer sentido.
2.2. Sou míope. Agora talvez tenha aumentado, mas tenho quatro e pouco em cada olho, e uma pitadinha de astigmatismo. Sou bem míope. Completamente míope. Talvez não tanto assim, para quem é mais míope do que eu, sou mera amadora; mas, para quem tem olhos de lince... olhos de lince? Bem, vai se tratar, porque isso com certeza não é normal.

Sonhei que estava na beira do mar, comendo sagu em uma pequena 'cumbuca', e Júlia estava comigo. Estávamos rindo e enchendo a cara de sagu quando, de repente, veio uma onda. Mas assim, tsunami na velocidade cinco do créu. Estávamos deitadas, de bruços, nem tínhamos muito como reagir, porém, algo incrível aconteceu. A onda veio, foi, aí veio de novo, foi, repuxo, onda, e tudo isso por cima de nós, era como se fosse um cobertor, era como se a água fosse maleável, porém sólida. Ela ia e voltava, às vezes víamos o céu claro, entravam raios de sol por entre as ondas, aí escurecia e clareava novamente. Nós ali, vendo aquilo acontecer e comendo sagu, era incrível. E nem molhadas estávamos, a água não nos empurrava, apenas curtíamos o sagu e a maravilha que estava acontecendo.

Foi quando me dei conta de que, na primeira enxurrada de água, meu óculos tinha sumido. Talvez ele não seja imune à água como eu, pensei. Estranho. Eu o via, um borrão a uns dois metros de distância. Começou a me bater um desespero, pois eu não conseguia alcançá-lo; quando ia pegar, a água o mudava de posição. Não enxergar com nitidez é péssimo. Aliás, reformulo: não enxergar com nitidez é ótimo. Geralmente, quando estou pintando ou desenhando, tiro os óculos, pois dá um ar impressionista para as coisas, mas aí é só colocá-los de novo. Agora ficar sem os óculos e sem a opção de tê-los novamente, aí sim, é péssimo.

Júlia me olhou e disse "Silvia, calma". Eu olhei para ela e ela estava nítida. Foi estranho. De repente, tudo estava nítido, e eu estava sem óculos. Podia até vê-lo, ali, longe, e enxergava cada detalhe. Era como se ali, no milagre das águas e dos sagus, houvesse ocorrido o milagre da cegueta. Um lance meio Locke na ilha de Lost assim. Aí, ainda no sonho, me bateu a dúvida: teria sido o meio, ou teria sido a Júlia? Ela seguia comendo sagu, tranqüilamente, deitada e sorrindo, como fazíamos quando crianças, sem nenhuma preocupação, sem nenhuma tensão nos músculos das costas. Éramos tranqüilas, com uma infância feliz. Aliás, era assim com todos os meus amigos na época. Éramos felizes e calmos, os problemas eram pequenos e de fácil resolução. Eu entrei em desespero por alguns instantes e logo Júlia, que talvez estivesse ali como uma representação do meu passado seguro e quentinho, disse "calma", e tudo se resolveu. Se eu não poderia acessar os óculos, eu simplesmente não teria mais miopia. Simples.

Talvez seja isso, uma saudades do tempo em que a vida era mais fácil. Não que ela seja muito difícil agora, mas os problemas tomam novas proporções. Mesmo assim, temos essas pessoas e esses elementos nas nossas vidas, que vão sempre nos recordar de que a "maré alta" vai passar, e, mesmo debaixo dela, podemos tentar resolver as tretas com facilidade. É um porto seguro, é uma certeza, por mais incerta que pareça, de que as coisas vão e voltam, acontecem e passam, e nós estamos ali, segurando firme. Seja a situação, seja uns aos outros. Os sonhos, as idéias, os problemas e tudo mais o que vier a acontecer, assim como os quinze sushis de omelete, uma hora ou outra, farão sentido.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

a strange under my umbrella

Tarde fria, chuva fina, e eu a esperar. Condução pra ir pro centro, mas sem encontrar. Um problema de aparente e fácil solução.

Meu guarda-chuva é grande. Morcegão assim, que cabe uma pá de gente embaixo, desses que tu carregas desconfortavelmente e bate nas pessoas sem querer. Ele não é exatamente ergonômico fechado, mas é muito ergonômico aberto. É bom de segurar, me cobre bem, não deixa molhar sequer minhas pastas, esqueci ele num orelhão. Damn it.

Estava no telefone público - algo que Blair desaprovaria, mas enfim - com o morcegão encostado, saquei meu cartão de vinte unidades e fui telefonar. A chuva caía fina, quase imperceptível. Não havia aberto o paraguas ainda, talvez por isso não senti falta quando, após o frustrante telefonema, saí reto, sem olhar para trás. Coitadinho, ficou ali, parado, me esperando voltar. Só me dei conta quando já estava há uns dez minutos no ônibus, ao ver uma senhora e sua sombrinha vermelha. As duas estavam tão lindas juntas, e ela delicadamente acomodava sua sombrinha em uma roupinha de mesmo tecido. Fui dar um abracinho afetuoso em meu lindo guarda-chuva, "ainda bem que eu tenho o m... opa! merrrrda".

Aí fiquei pensando, enquanto passava na frente de uma farmácia que é cliente da agência aqui e via os encartes que fiz com tanto amor e carinho serem molhados pela chuva: o que acontece com os guarda-chuvas que perdemos? Na boa, todo mundo já perdeu um guarda-chuva. Impossível nunca ter esquecido um em algum lugar qualquer. Pode até ter recuperado depois, o mesmo ou uma réplica, mas não há como não perdê-los. E quem os encontra? Eu nunca encontrei um guarda-chuva. Imagine só que conveniente, estava chovendo e eu esqueci o meu lindamente apoiado, em plena via pública. Quem achou é muito sortudo. Aliás, quem ganhou a mega-sena acumulada em 56 milhões sim que é muito sortudo, quem achou o meu guarda-chuva apenas achou o meu guarda-chuva, no big deal. O foda é que era um big deal pra mim. Meu pai até amarrou uma cordinha marrom nele, para eu poder pendurá-lo. Agora perdi ele e a cordinha. Uma pena.

Nem tanto valor monetário, mas um certo valor sentimental perdido em átimos de descuido. Não sou de perder minhas coisas, só quando estou de cabeça cheia, talvez por isso me sinta tão mal quando perca. E também porque está chovendo pra caramba e eu estou sem guarda-chuva. Acho que não perco minhas coisas pela maneira que eu fui criada: PARANÓIA. Não existe ninguém mais "noiado" do que Dona Liliane, a.k.a, Mama. Mama sempre me diz para eu cuidar das minhas coisas, para eu mantê-las perto de mim, para eu nunca deixá-las sozinhas. Acabei criando fios imaginários que ligam tudo o que está na minha bolsa a mim. É sério, se eu esqueço de algo, uma chave que seja, começo a sentir uma angústia, um puxãozinho; logo me dou conta, é o fio. Aí volto e pego de volta. Talvez o fio do guarda-chuva tenha arrebentado. Ou alguém cortou. Espero não sair daqui e ver algum qualquer usando meu lindo paraguas. Pediria de volta com educação, senão, parto pra ignorância, saio no tapa. Adoro. Não sei como vou embora se a chuva seguir. Suspiro.

eso pasó...



Liniers

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

HJ

Trabalho de frente para uma janela. Na verdade, trabalho de frente para um computador, mas, atrás dele, há uma janela, dessas bem grandes. Mera questão de posicionamento, mas enfim. Nessa janela, vejo várias janelinhas. Dependendo da posição, dá para ver vinte janelinhas e três basculantes. Dependendo da minha posição e da posição do CPU da outra mesa que tapa parte do cenário, mera questão de campo de visão, mas enfim. Há pouco passaram uns três dias com guindastes ali, limpando o prédio com jatos de água, aí me dei conta de que ele não era tão sujo assim, parte da sujeira é da nossa janela aqui. Mas com a brancura do prédio, eu me dei conta de uma coisa. Ele é uma história em quadrinhos. Com a diferença de que não é uma história em quadrinhos seqüencial, mas sim, cada quadrinho é uma história, sem fim previsto.

É bacana ver a vida passar, só não sei se é bacana ver a vida alheia passar. Talvez seja meio triste, mas fazemos isso tanto, seja na frente da televisão, seja na frente de janelas... Nas basculantes, geralmente nada acontece. As pessoas devem tomar banho atrás delas, então, supostamente, devem ser as janelas mais interessantes, porém nunca são abertas. Nas outras vinte janelas que cabem no meu campo, pessoas passam, penduram roupas, fumam, se apoiam e admiram o nada por um certo tempo. Aí elas voltam, recolhem roupas, jogam bitucas, se desapóiam e deixam de admirar o nada por um certo tempo. E o ciclo se repete. A vida é tão cíclica. Sempre voltamos a fazer as coisas, talvez em ordens diferentes, o que não deixa o cíclico linear, mas sempre voltamos. Coisas novas são acrescentadas, às vezes, e coisas velhas são excluídas. O que não impede o ciclo de continuar.

Eles não nos vêem. Meu sub-chefe disse que, há um tempo já, eles colocaram insufilm. Acho sem graça, me sinto um quadrinho nulo. Parece que nada acontece aqui dentro, já que somos um quadrinho preto, um quadrinho sem fusíveis, um quadrinho "BAM POW SOC", onde nada acontece, a não ser fumaça. Aí lembro daquele quadrinho do Mutarelli "essa casa é tão grande, e só aocntece o que eu faço". Nas janelinhas, só acontece o que as pintas fazem, se elas não estão em casa, o quadrinho pára. Algumas passam o dia sem fazer história, talvez estejam fazendo histórias em outros cubículos, como eu estou fazendo aqui, agora. Alguns têm cortinas, outros não. Ninguém nunca faz nada de espetacular. Seria bacana ver um assassinato por de trás do anonimato do insufilm, ou um casal trepando furiosamente, sob o voyeurismo do insufilm. Mas nada de muito espetacular acontece. As pessoas passam, penduram roupas, fumam, se apoiam e admiram o nada por um certo tempo. Aí elas voltam.

Nos dias de chuva o dia fica escuro, e a única coisa que eu vejo na janela é uma figura com ar de desânimo, que me olha de volta e assim ficamos, tristes, olhando uma para a outra. A parte de trás do insufilm reflete bastante. A vida não passa muito de uma história em quadrinhos mesmo. Somos nossos próprios personagens e temos nossos próprios coadjuvantes. Se erramos, passamos por cima. Alguns rabiscam mais, alguns são mais noir, alguns têm traços mais limpos, uns são coloridos, outros são PB, e a vida continua. Cada um no seu quadrinho, cada um com a sua janela.

Beauty and the Geek, season 7

quem, eu?

hoje quis escrever um soneto
um lindo soneto sobre amor
digitei no google "terceto"
para aprender a fazê-lo, com louvor

o google me disse, entre sites diversos
que não se pode dizer a um poeta
"seja metódico em seus versos"
arranje um jeito, com papel, com caneta

tentei não mais focar na trepada
"ei de tomar algum tino!"
mas logo me frustrei, em plena madrugada
pois nada forma um verso alexandrino

caraio, mano, mil fita na jogada
vô parar de embaçá e dá logo a tal bimbada




and cica knows what i mean.