sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

(L) M.

à tarde, em algum lugar do centro

- Ai, M., mas eu odeio aquela guria, sabe... não gosto mesmo.
- Eu também não.
- Não? Por que?
- Por tabela.
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3h47, quinta-feira

- Oi amiga!
- Hmmm
- Tava dormindo?
- Roouurara...
- Só queria dizer que eu te amo!
- Eu te amo também, M., vai dormir.
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22h40, parada do 195/TV

- Fica fria, Silvia, fica fria que eu já dei pra esse motorista. Não comenta nada.
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19h, no shopping. Havíamos marcado para às 17h30

- Alô, amiga? Em uns dez minutinhos eu chego aí, NEM SABE o que me aconteceu! Beijo pra quem é travesti! tu tu tu tu tu tu tu tu
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Tem como não querer ter por perto uma pessoa dessas pelo resto da vida? É como se fosse eu, mas melhor.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

you can't always get what you want

Certas coisas seriam tão mais legais se fossem do jeito que eu queria que estas fossem...


P.S.: O cão aparece como mera metáfora photoshopada da vida.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Duas Lembranças Latentes de Infância que Eu Provavelmente Não Deveria Estar Contando, mas Como Queimar Filme é Comigo Mesma, Vamos Lá

1. Eu tinha um coleguinha que veio de São Paulo, o Gian. O Gian falava engraçado, falava FUTEBOL, enquanto nós, gaúchos malandrinhos cheios de marra, falávamos "bah, um futibas e pá". O Gian tinha vários irmãos, todos com a letra G: a Giulia, o Giovani, o Gabriel, enfim. Não lembro em que série o Gian entrou, mas nós éramos novinhos. Ou eu prefiro que tenha sido assim. Eis então que lá pelo fim da primeira quinzena de abril, todos da escola foram convocados para cantar errôneamente seu Hino Nacional, na quadra esportiva principal (a única quadra). Lá estávamos todos, separados em filas por altura e sexo. Eu, claro, sempre a última da fileira das meninas por ser a mais alta. Sabe aquela criança nãrds que espichou tão rapidamente a ponto de o coração não ter adaptado o bombeamento de sangue até o cérebro ainda? Pois é. Começa o hino. Tararãrãn, tarararãn rãn tararãrãããn nããã! Eu furtivamente reparo no coleguinha Gian, aquele menininho que veio sabe-se lá de onde e fala um português meio estranho. Ainda não o conhecia muito bem, mas qual não foi a minha surpresa quando ele logo engatou, em uma oitava acima dos demais, um "Ouviram do Ipiranga as margens plááácidas", com um tom respeitoso no rosto. Comentei com o coleguinha da fileira de meninos ao lado: "Nossa, ele mal chegou e já decorou!". Em minha defesa, o coleguinha, alto com pouco sangue no cérebro também, comentou "Pois é, que coisa!". Breves noções de geografia, com Silvinha Pont.

2. Essa é muito pior, mas né, se eu não rir de mim mesma, quem vai? Admiro a minha eloquência. Meus pais são muito amigos de um ex-casal, uma francesa e um brasileiro. Eles separaram-se, mas tiveram uma filha, aproximadamente da mesma idade que eu. A menina, L., foi morar na França com a mãe e, eventualmente, vinha ao Brasil visitar o pai. Sempre que ela vinha, nós íamos em algum parquinho, comer um sorvete, ver um filme, enfim. O bonito da nossa relação é que nós nos conhecemos desde pequenas e só viemos a entender o que uma falava recentemente. Meu francês é chulo, o português dela é ótimo, mas nem sempre foi assim. Há pouco, L. veio passar um período maior no Brasil. Francesa fina, de bom tom, elegante, inteligentíssima, linda. Foi estudar em um colégio daqui e ser vizinha de algumas piriguetes. Claro, desvirtuou-se. Soube pela minha mãe que ela se drogou, se envolveu com um homem mais velho e encheu a cara a ponto de ter sido encontrada meio desmaiada em um banheiro. Finésse misturada com muito sexo e drogas? Virei fãzaça de L., lógico. Com isso tudo ela acabou tendo que voltar para a França, mas tudo bem, continuo admirando ela intercontinentalmente. Bom, isso tudo não vem ao caso, estou apenas contextualizando. Voltemos à parte em que nós éramos pequenas e ainda não entendíamos o que a outra falava. Ela olhava para o meu gato e falava "ooun, chat!". E eu ficava meio que "chá é aquela coisa que serve na xícara, nénão?". E minha mãe, meu pai, todos pareciam compreender. Para mim, ela era um ser de outro planeta. Saíam aquelas coisas estranhas da boca dela e só eu não compreendia. Esperava pacientemente pelo dia em que eu também seria abduzida e sairia falando estranho, até que me veio à cabeça "ok, essa pessoa não é normal. será que ela está ciente das coisas que acontecem ao redor?". Comecei a reparar no seu comportamento. Tenho certeza de que era bem pequena, mas lembro-me de, certa vez, estarmos eu, L. e a minha irmã no banheiro lavando as mãos. Ela lavava com cuidado e olhava estranho para a pia. Comentei de canto, baixinho com a minha irmã: "Será que ela entende que esse é o barulhinho da água?".

#epicfail

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Desafinando o coro dos contentes

Anna Dello Russo é uma italiana de péssima postura beirando seus 50 anos. É, também, uma Vogue gal, editora de moda da edição japonesa. É licenciada em literatura italiana e história da arte. Anna é rainha do streetstyle absurdo, faz juz a sua posição de editora de Vogue. Está sempre impecável, diferente, com jóias extravagantes, haute couture e saltos abusivos para alongar mais ainda seu belo par de pernas. Mesmo com tudo isso junto-misturado, segue uma linha de raciocínio nos outfits. A referência que busca na história da arte, às vezes, é gritante. O que é gritante, outras vezes, é a falta de sentido que a coisa toda faz.
Há quem a critique, dizendo que, como editora de uma revista tão influente, ela não devesse se vestir de forma tão inacessível. Eu desafino o coro dos contentes, acho completamente o oposto: ninguém abre uma Vogue para ver jeans e blusinha, para ver o pretinho básico da estação. Ninguém abre uma Vogue para ver modelos com roupas ordinárias desfilando na passarela, sem explorar o máximo do que o tecido pode produzir e sem movimentar o glamour que a marca e o nome por trás do desfile venderão em perfumes e sapatos com enormes listas de espera depois. Anna é a personificação disso. É alguém que nos mostra como o meio fashionista é feito de estruturas e buscas, referências e diferenciações.
O mais engraçado disso tudo, é que as pessoas tendem a não compreender. Tendem a não ver a moda como mais um movimento artístico, aliás, um movimento não, uma escola que transita entre os movimentos, evoluíndo junto com a história. As roupas usadas em uma determinada época trazem tantas referências e significados quanto um quadro do mesmo período traz. A própria Anna se manifesta a favor dos bloguers, não como mera vitrine online, mas como instrumento de comunicação em massa, discussão aberta a todos que tiverem algum palpite sobre. E, realmente, as pessoas tendem a não compreender. A distanciar-se disso tudo e fingirem que essa indústria da moda é uma tal que não as atinge.
Adoro a feição das pessoas diante da Anna. Adoro. Gosto mais do que comer negrinho de panela enquanto vejo Sex and the City. Ela feliz, se divertindo horrores na montação, e as pessoas olhando para ela com a sua pior feição. Adoro essa ignorância toda e adoro o descaso italiano dela diante de todos.





segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A espera da estação

Boa garotinha metida à it girl atrasada que sou, eis que fui atrás do Snob, da MAC. Em termos de batom, é a cor da estação, mesmo que a estação termine em um mês. Para quem só foi pintar as unhas de Sereia essa semana, que diferença faz. Tudo bem, eu tiro o atraso lançando uma cor no Outono, sem problemas. Enfim. Segue o diálogo.

Mocinha Mega Maquiada da MAC - Oi! :)
Eu - Oi :)
MMMM (que sigla mais Crash Test Dummies) - Posso te ajudar em alguma coisa?
Eu - Eu tava procurando um batom
MMMM - Bom, aqui nós temos a tabela de cores
Eu - Pois é, na real eu queria o Snob
MMMM - Ah, o Snob é o único que tá em falta, estamos sem ele na loja há bastante tempo
Eu - Putz...
MMMM - É, mas se tu quiseres, te coloco na lista
Eu - Lista?
MMMM - É, a lista de espera do Snob
Eu - Éam... não, gracias de qualquer forma.

Cheguei em casa e corri pro site da MAC. Entre mil ítens de maquiagem para a boca, só em batons são 172 cores. Cento e setenta e duas cores. Aliás, cento e setenta e uma, porque uma mísera cor não existe mais. Ou seja, entre outras 171 cores para escolher, as pessoas preferem ficar em uma lista de espera por um freaking batom. Bloguers de moda definitivamente movem montanhas...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

keep your eyes on the road, your hands upon the wheel

Ok, rápida experiência traumática: Entrei no prédio onde eu trabalho. Levemente atônita, com meu olhar perdido, quase o mesmo olhar da menina comedora de pássaros do Magritte. Estado de espírito usual, tenho esse ar de quem não sabe ao certo o que está fazendo enquanto caminho. Bolsa no braço, água na mão. Cumprimentei o seu Antônio da portaria, entrei sozinha no elevador, marquei o 4° andar e esperei. Larguei a água no chão para abrir minha bolsa e pegar a chave. Nisso, o elevador pára. "Que rápido!", pensei. Estou acostumada com o antigo escritório que era no 18° andar, subir quatro andares não é nada. Entram duas meninas, eu desço. Saco a minha chave, enfio na fechadura e ela encaixa. E o mais surpreendente, dá uma volta. Abro a porta e deparo-me com um verdadeiro cataclismo. Calamidoso, catastrófico, caótico, e isso tudo só na letra C. Madeira por toda a sala, um rombo na parede, sacos de imundícies, enfim, uma verdadeira zona. Eu fiquei ali, parada, catatônica, com a mão no trinco. Passei uns 10 segundos pensando que o andar de cima havia despencado e caído sobre a Verdeperto, todos haviam morrido durante o horário de almoço, houve um terremoto na esquina da General Câmara com a Andradas e não houveram sobreviventes no quarto andar ou, ainda, um avião chocou-se contra o prédio, errou feio o rumo para a Casa Branca. Olhei para o lado e vi o restaurante do prédio. Ok, pensei, o restaurante não ficava no segundo andar?, questionei. Levantei a cabeça e vi o que estava escrito no topo daquele verdadeiro portal para a desavença entre os povos: 201, estava escrito. Algumas pessoas do restaurante me olharam estranho, eu deveria estar branca. Fechei a porta e subi correndo as escadas rumo ao quarto andar, repetindo baixinho Puta que pariu, que cagaço, puta que pariu, que cagaço, puta que pariu...