quarta-feira, 25 de agosto de 2010

sr. passageiro: o aceitamos.

umas letras a menos podem fazer a andança de lotação mais.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Diários de Marlboro Light

Eis então que, levando a sério minhas resoluções, resolvi parar de fumar para virar uma velha linda da pele de pêssego e do aroma de flores do campo. Tal qual aquele que está consciente de possuir uma doença terminal, comprei meu último maço sabendo que seria o último. No começo foi divertido, foi normal. Aos poucos, reparei uma folga na caixinha. Quando cabia o isqueiro, os cigarros e ainda sobrava espaço, bateu um pequeno pânico. Hoje, amanheci com dois remanescentes. O Bic azul petróleo parecia me perguntar “e agora?”. E agora? Agora inicia-se a nova jornada, intitulada “Diários de Marlboro Light”, com o subtítulo “do fumo ao fuuuuu...!”.
A manhã foi tranquila, apesar de eu ter sapateado bastante enquanto esperava o ônibus. A vontade veio, e trouxe reforços, na hora do almoço. Almocei com M., no Barra. Tranquilo. Voltando do Barra para a firma, 13h02, chega o momento do penúltimo cigarro. Abri a caixinha, ele me olhou tristonho. O clima era de tristeza no Bic também, cujo o fogo veio falhado. Acendi, dei aquela tragada deliciosa e parei um pouquinho. Ouk, penúltimo. Vou guardar o último para a noite e, a partir de amanhã, vamos ver o que se faz. Vinha andando pela “peatonal”, no estacionamento de trás, ou seja, pouquíssimas pessoas em um raio de alguns quilômetros. Caminhei devagar, lembrei do sonho que tive a noite. Muito bom, por sinal. A brisa batia devagarzinho, fluindo junto com a fumaça. Eu fumo no ritmo em que eu penso.
Traguei mais uma vez, agora se aproximava da metade já, e, no momento de dar o peteleco a fim de se livrar da cinza, o cigarro foi ao chão. Metade do cigarro ainda, sem contar com o filtro. O penúltimo cigarro da minha vida foi, quase inteiro, ao chão. Minha válvula de escape já há alguns anos, agora em seu fim, de encontro à brita. Nos últimos dias tenho previsto como serão os próximos, e não serão bonitos. Enquanto o cigarro caía, eu via no futuro a angústia, o pavor, o horror, o terror, o pânico, os povos em batalhas intermináveis pela talassocracia nas limitadas faixas de terra, mortes no arquipélago, desesperados atravessando o mar Egeu ao lado de seus últimos familiares. Ele caiu em câmera lenta. Como se houvesse um tsunami surgindo entre os altos prédios do Cristal e dependesse de mim, do meu grito, salvar a vida dos transeuntes desavisados que ainda não haviam percebido o que estava por vir, implodi e acabou escapando, em alto e bom tom, “NÃÃÃÃOOOOoooooo!”. Catei o cigarro, soprei, fumei e olhei ao redor. Fazer fotos com analógica nos dá uma noção melhor de distância em metros, em aproximadamente três metros a minha frente se encontrava um senhor de seus 40 anos, cabelo dividido ao meio, terno, gravata, pasta de executivo e um sorriso, uma cara de surpreso. Eu devo ter gritado alto. Me admiro não ter dado um peixinho no chão para salvar o cigarro. O homem estava parado, me olhou fundo, ainda surpreso, e riu. Eu comecei a rir junto. Se aproximou, deu um tapinha amistoso no meu ombro e seguiu, com sua vibe businesseman, rindo. Eu segui meu caminho, rindo também. Rindo da situação. Rindo de desespero.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

ALONTRA