terça-feira, 18 de agosto de 2009

a strange under my umbrella

Tarde fria, chuva fina, e eu a esperar. Condução pra ir pro centro, mas sem encontrar. Um problema de aparente e fácil solução.

Meu guarda-chuva é grande. Morcegão assim, que cabe uma pá de gente embaixo, desses que tu carregas desconfortavelmente e bate nas pessoas sem querer. Ele não é exatamente ergonômico fechado, mas é muito ergonômico aberto. É bom de segurar, me cobre bem, não deixa molhar sequer minhas pastas, esqueci ele num orelhão. Damn it.

Estava no telefone público - algo que Blair desaprovaria, mas enfim - com o morcegão encostado, saquei meu cartão de vinte unidades e fui telefonar. A chuva caía fina, quase imperceptível. Não havia aberto o paraguas ainda, talvez por isso não senti falta quando, após o frustrante telefonema, saí reto, sem olhar para trás. Coitadinho, ficou ali, parado, me esperando voltar. Só me dei conta quando já estava há uns dez minutos no ônibus, ao ver uma senhora e sua sombrinha vermelha. As duas estavam tão lindas juntas, e ela delicadamente acomodava sua sombrinha em uma roupinha de mesmo tecido. Fui dar um abracinho afetuoso em meu lindo guarda-chuva, "ainda bem que eu tenho o m... opa! merrrrda".

Aí fiquei pensando, enquanto passava na frente de uma farmácia que é cliente da agência aqui e via os encartes que fiz com tanto amor e carinho serem molhados pela chuva: o que acontece com os guarda-chuvas que perdemos? Na boa, todo mundo já perdeu um guarda-chuva. Impossível nunca ter esquecido um em algum lugar qualquer. Pode até ter recuperado depois, o mesmo ou uma réplica, mas não há como não perdê-los. E quem os encontra? Eu nunca encontrei um guarda-chuva. Imagine só que conveniente, estava chovendo e eu esqueci o meu lindamente apoiado, em plena via pública. Quem achou é muito sortudo. Aliás, quem ganhou a mega-sena acumulada em 56 milhões sim que é muito sortudo, quem achou o meu guarda-chuva apenas achou o meu guarda-chuva, no big deal. O foda é que era um big deal pra mim. Meu pai até amarrou uma cordinha marrom nele, para eu poder pendurá-lo. Agora perdi ele e a cordinha. Uma pena.

Nem tanto valor monetário, mas um certo valor sentimental perdido em átimos de descuido. Não sou de perder minhas coisas, só quando estou de cabeça cheia, talvez por isso me sinta tão mal quando perca. E também porque está chovendo pra caramba e eu estou sem guarda-chuva. Acho que não perco minhas coisas pela maneira que eu fui criada: PARANÓIA. Não existe ninguém mais "noiado" do que Dona Liliane, a.k.a, Mama. Mama sempre me diz para eu cuidar das minhas coisas, para eu mantê-las perto de mim, para eu nunca deixá-las sozinhas. Acabei criando fios imaginários que ligam tudo o que está na minha bolsa a mim. É sério, se eu esqueço de algo, uma chave que seja, começo a sentir uma angústia, um puxãozinho; logo me dou conta, é o fio. Aí volto e pego de volta. Talvez o fio do guarda-chuva tenha arrebentado. Ou alguém cortou. Espero não sair daqui e ver algum qualquer usando meu lindo paraguas. Pediria de volta com educação, senão, parto pra ignorância, saio no tapa. Adoro. Não sei como vou embora se a chuva seguir. Suspiro.