terça-feira, 9 de junho de 2009

Acostumbráu

Limpo o ranho com as mãos, de preguiça mesmo. Gripada ainda e, agora, a dor de ouvido e a dor de cabeça ao se abaixar (ou trepar por cima) vieram ver como eu ando. Mal, pero acostumbráu. No frio a gente diminui, as extremidades afinam e os anticorpos fragilizam. Tenho sentido o diminuto bater mais forte em mim. Nunca fui de emagrecer, nunca fui pequena. Na fila para cantar o hino na segunda série eu sempre era a última. Até no nome, "Silvia", sempre fui a última das chamadas. Mas, agora, a história começa a mudar um pouco. Tenho diminuído. Achava ter mais de um e oitenta, sempre afirmei, mas minha endócrino me disse um e setenta e oito. Ela também disse que a massa de gordura diminuiu, assim como o peso, e a água corporal aumentou. Veja só... Mas não é só assim que eu me sinto menor. Essa coisa de correr, de não ter tempo pra mais nada, nunca tive isso. Agora estou sempre com pressa, esbarro nos outros, pego táxi, vou direto nas estantes da biblioteca sem consultar nas máquinas antes por medo de perder algum livro em frações de segundo. Antes eu me sentia dona da faculdade, agora me sinto uma estranha. Só vou lá para cumprir o que se deve cumprir e vou embora, sem maiores sorrisos. Antes eu sentava na rua, fumava, fazia o social, ria alto. Agora meus intervalos são sucintos e as carterias são as mais perto do professor. Me sinto fraca e um pouco cega. Talvez já não tenha todos os amigos que eu achava que tinha, por falta de convivência. Já não me sinto mais tão bem na presença de quem costumava me entreter. Talvez a vida seja assim mesmo, esse difícil equilíbrio entre pessoas, labuta, conhecimento, uma eterna busca. Não sei quem é mais hostil, nem sei quem é culpado. Me aqueço com chá e com abraço, mas sigo diminuindo. Minhas resistências morais se abalam com esses graus celsius de baixos dígitos...