quinta-feira, 29 de outubro de 2009

looks like homeless

Enquanto o mozilla girava e girava, abrindo todas as abas dos meus favoritos, eu checava os já carregados. Neste solene momento, dei-me conta de algo que eu nunca tinha parado para pensar sobre. Desci a barra de rolagem do coutequecoute e percebi: não sei montar outfits masculinos. Não faço a menor idéia, actually. Não tenho noção de estrutura, da proporção do corpo e dos números, do tecido que vai cair bem, e qual o corte, enfim, no fucking clue. Não sei quais cores ficam bem com o que e com qual tonalidade de pele, não sei o que disfarça os gordinhos, não sei o que favorece os magros, não sei o que está em alta no universo masculino e não compreendo direito a coerência que as tendências seguem.
Aí, parei para pensar no que sempre foi meu parâmetro fashionista do universo masculino: mendigos. Vivo, quase diariamente, a seguinte situação. Estou passando pela rua e deparo-me com um mendigo. Na sequência, olho em volta e reparo no primeiro cara com ares de quem tem onde cair morto. Na maioria das vezes, prefiro o outfit do mendigo. Os homens têm uma tendência incrível ao simplismo. Não estou generalizando, tampouco falando em minimalismo. É simplismo mesmo, e, na maioria dos homens, consta. É aquela idéia de colocar uma camiseta com escritos sem sentido em inglês ("psycho surfer", repare. Há milhares), uma calça jeans de corte qualquer e um tênis horroroso, indicado para corridas. Aí cria-se o conceito de que o cara é um surfista maluco que veste calças estranhas e vai disputar a São Silvestre a qualquer instante. É essa a temática que eles querem passar ou eles não se importam? Passemos para o mendigo.
O outfit do mendigo é sempre aquele despropósito conceitual, vivem em eternos revivals de descartes alheios e apostam nas sobreposições e na durabilidade. Pelo fato de as roupas já estarem desgastadas, elas ganham aquele ar de cores "sujas", cores neutras, uma paleta mais natural. Abalam as estruturas preppy, indo contra os modismos e criando, desde as ruas, sua própria tendência. Conforme adquirem, sabe-se lá como, suas peças, vão montando o composit de acordo com a temperatura e o meio. Nada mais coerente. E falando em "sabe-se lá como", quer algo mais hype do que ter roupas que vêm do nada, que ninguém sabe identificar onde foram compradas? Fora que second-hand clothes nunca estiveram tão em alta. Mendigos constroem seu conceito sem querer.
Se pegarmos o sentido bruto da palavra "moda", ela nada mais é do que a variável de maior frequência, ou seja, é o valor, em termos de medidas, mais popular. Quando alguém me diz que eu "estou na moda", paro e penso. Olho ao redor. A maior parte das pessoas não se importa com o que vão passar com a roupa, não a veem como uma forma de comunicação e uma primeira impressão, não a consideram uma fundamental peça de contato inicial e "pré-conceitos". As pessoas não ligam. Se esse fenômeno ocorre com a maioria, logo, a moda é não se importar e se vestir mal. A variável de maior frequência.
Tenho pavor de estar na moda. Sempre prefiro fazer parte da minoria que se importa. A variável de menor frequência que quer estar bem consigo mesma. Os mendigos também são assim. Fazem parte da minoria. Talvez não vejam o The Sartorialist, mas usam sapatos sem meias. Talvez não vejam o Garbage Dress, mas devem encontrar roupas no lixo. Talvez não entendam muito bem o coute que coute e todo o universo de roupas masculinas, do mesmo jeito que eu não entendo e talvez nem percam o seu tempo (e quanto tempo eles têm!) pensando nessas coisas. Mas, dentro do inconsciente coletivo fashionista, tudo é válido. Os mendigos, querendo ou não, fazem parte disso. Há algo mais street style do que um mendigo?