quinta-feira, 10 de março de 2011

Coppola: u r doing it wrong.

Aviso aos navegantes que o post contém spoilers do último filme da Coppola. Segue o baile.
Semana passada recomeçaram as aulas na faculdade. Enquanto rumava à cadeira de Psicologia da Percepção, eis que tenho, nas escadas do segundo andar, uma aula prática de Psicologia da Percepção.
Há algumas semanas fui ao cinema com uma amiga assistir ao filme Somewhere. Nada de novo, chovia em Porto Alegre, mas a sala do Guion estava bastante cheia. Lá, encontramos nosso professor de algumas cadeiras de desenho na faculdade, que acabou assistindo ao filme conosco. Gosto muito dele, é um dos professores que realmente fez alguma diferença na minha vida, desses que acabamos levando como exemplo para sempre.
O filme trata basicamente sobre um astro de hollywood que vive entre álcool, cigarros, mulheres e despirocadas, até a chegada da filha de onze anos que vai passar uma temporada com ele. O filme, como todos os filmes da Coppola, não tem nada de muito clímax ou enredo elaborado, é sensibilidade e o não-dito que acabam nos prendendo. O marcante do filme são seu começo e seu fim: durante todo o filme ele está dirigindo uma ferrari. No começo, aparece ele dando voltas em círculos, como se estivesse desorientado. No final, ele anda em linha reta, com firmeza, até descer do carro e seguir o caminho à pé.
Ao sairmos do cinema, cumprimos o velho ritual do "eaí, o que cês acharam?". Meu professor fez um comentário que, na hora, pensei "nossa, mas que análise crítica da vivência do homem pós-moderno e sua coerência com o caos cotidiano e o cosmos e o paralelo 30 e talz". Ele avaliou que, ao sair da Ferrari, no fim, ele estaria acordando do sonho em que ele vivia. Eu entendi que o sonho ao que ele se referiu seria a vida de sonho que o cara levava, cheio da grana e das mulheres. Eu estava enganada.
Voltando ao dia em que eu teria aula de Psicologia da Percepção, enquanto subia as escadas com essa minha amiga que havia ido ao cinema comigo, nosso professor nos aborda. Ele estava conversando com outra pessoa, mas virou bruscamente ao nos ver, nos pegou pelos ombros e disse, abismado:
- Gurias, nossa! Eu estou ficando velho! Eu entendi completamente errado o filme! Eu vi outro filme aquele dia, não o mesmo que vocês!
- ... Oi? - dissemos, em uníssono.
- Sim, eu entendi que, na verdade, o cara era um fodido, ele não tinha dinheiro, nem nada. Que aquela ferrari era um sonho dele e, sempre que ele entrava nela, ele vivia aquele mundo de ilusões! Aí esses dias fui ler uma resenha do filme e entendi que, na verdade, o cara realmente dirigia uma ferrari, era rico e astro de Hollywood. Nossa, sério, o meu filme foi muito melhor do que o de vocês! Acho que vou ligar pra Coppola e dizer que ela fez tudo errado...
Eu ri alto. Sério, achei aquilo genial. Genial. Incrível como a percepção de cada um pode ser completamente diferente. Os três vimos o mesmíssimo filme, porém, com a "bagagem cultural" que cada um carrega, as interpretações podem ser várias. Tanto percepções com pequenas diferenças, como as que eu e minha amiga tivemos, quanto com enormes diferenças, como as que o meu professor teve. O ser humano é um bicho muito engraçado mesmo...