domingo, 19 de junho de 2011

corredor 10

só dei-me conta quando o vi ali, mexendo nas caixas, acocado
roube meu coração, mas não roube o meu supermercado

segunda-feira, 13 de junho de 2011

pra não dizer que não falei das lombadas


Em junho de 2006, trazendo na capa uma Gisele com ares fatigados prometendo um "balanço de sua vida" no recheio, a Vogue Brasil mudava o seu projeto gráfico. Não drasticamente, mas aquela velha história de dar um "ar mais dinâmico" para a revista. Eu sempre apoio essas pinceladas temporais, de acordo com a necessidade. Daniela Falcão é, querendo ou não, a diretora responsável, apesar de ainda assumir o papel de diretora de redação com a saída da Patrícia Carta e a não mais publicação através da Carta Editorial e sim da Globo Condé Nast. Na época, ela definiu o redesenho como uma enfatização de que a Vogue é uma revista de moda, ou seja, era necessário uma reorganização das seções, como a diferenciação de cultura e consumo de moda, por exemplo. O novo desenho entra para deixar essa reorganização mais leve e feminina, com um design mais orgânico. Agora está menos engessada e mais nervosa, disse.

Nessa mesma capa, ainda se referia à Alemanha como o país da copa, os 30 anos do punk eram revisitados e invejava-se os lábios de Angelina Jolie e o corpo de Elle Macpherson. Na época, quem fez o novo projeto gráfico da revista foi a própria diretora de arte, a inglesa Rebecca Mason. Hoje em dia, Mila Waldeck, diretora de arte da Vogue já há alguns anos, capitaneou essa "engenharia nos pilares da revista", como definiu Falcão, com o auxílio da própria Mason, a mesma de cinco anos atrás. Devo frisar que a Rebecca é uma gracinha fashionista de uns trinta e poucos. Na capa da "nova reforma", edição de junho de 2011, temos Raquel Zimmermann vestindo Animale e as chamadas - muito mais chamadas do que há cinco anos: cremes para as idades de 20 à 50, o poder do branco no inverno, os casacos mais desejados da estação e Marta Suplicy, Bia Antony e Kate Middleton. Veja só.

Gostei, e muito, da "nova cara". Não é fácil diagramar uma revista com o volume, a quantidade de informações, o acervo imagético e a assiduidade mensal que a Vogue apresenta. Mesmo assim, eles tiram de letra. Acho engraçado como as pessoas gostam de escorraçar a Vogue por ser elitista, por tratar a moda fora da realidade, por ser medíocre e superficial, por já ter virado mainstream. Acho engraçado mesmo. Sou defensora com unhas e dentes da Vogue. Reconheço que há uma série de revistas, blogs e designers interessantíssimos por aí que podem estar sendo atropelados de alguma forma, mas jamais se pode tirar o mérito. É uma revista de arte, de contemporaneidade, com boas matérias, editoriais, saudosismos e o que está em cena atualmente. É o que Anna Dello Russo já afirmou há tempos: ninguém compra uma Vogue para ver jeans e camiseta. Ninguém vai a uma exposição de arte para ver o que nós mesmos podemos rabiscar com uma bic.

Enfim, escrevi tudo isso para dizer: Vogue, sualinda, é isso aí! A tipografia fluída, as colunas, os créditos, as legendas, as informações dos produtos, até a cursiva - e olha que eu sou sempre a primeira a levantar a bandeira contra as cursivas -, até a cursiva ficou genial! Sou puxa-saco sim, me deixa. Mas ó, o mais legal, disparado e sem sombra de dúvida, foi a lombada. Que lombada maravilhosa! Quem empilha/enfileira revistas, sabe o valor de uma lombada. Que lombada bem linda...


N.E.: Um amigo comentou que achou estranho o logotipo estar em "sans serif" na lombada. Queria afirmar que eles não mudaram o logotipo, apenas tiveram os colhões de alterá-lo só ali como recurso gráfico, em prol de melhores leiturabilidade e visibilidade. Para isso, também tiraram o itálico, colocaram o "n°" em caixa alta e mudaram completamente a tipografia, os pontos e a proporção.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Duas histórias ótimas (e reais!) de amigos meus, já que eu cansei de estar sempre tirando sarro comigo mesma nesse blog

(Antes de mais nada, cansei também de usar itálico em citações em inglês, gente. A partir de agora vou me aventurar, viver perigosamente, ESSE É O MEU JEITÃO DE ESCRITA!)

1.

Tenho uma amiga. O nome dela é Dini* (*os nomes serão drasticamente alterados a fim de preservar a identidade dos envolvidos). Na casa da Dini há um largo acervo de livros de culinária para microondas. Sério, são alguns vários fascículos só com receitas práticas de micro - ou nem tão práticas assim. Não lembro o nome, mas é algo tipo "você e seu microondas - viva com praticidade e harmonia" (just made that up). E é incrível a técnica e a habilidade de Dini diante seu gadget culinário. Ela poderia vender microondas na polishop como algo completamente inovador - sem alterar nada no eletrodoméstico - e ficaria milionária. Mas enfim, o caso é que com toda essa exímia habilidade na pronta-alimentação, Dini não é muito, digamos assim, versada nos demais campos da gastronomia.
Um dia, segundo a narrativa da própria, ela ficou cheia de vontade de comer cenoura e beterraba. Lá foi a moça, rumo ao supermercado comprar as tais da cenoura e da beterraba - itens dos quais ela não estava muito habituada. Comprou, pesou, pagou, até aí tudo bem. Chegou em casa e foi deliciar-se com seus quitutes quando notou, sorrateiramente, que eles estavam duros. Lógico. Putz, que azar, comprei uma cenoura e uma beterraba estragadas! - pensou. Nossa, mais lógico ainda. Resolveu ligar para a mãe dela.
- Mãe, comprei uma cenoura e uma beterraba, mas elas estão duras demais, acho que estão estragadas!
- Estão cruas, isso sim! Tem que cozinhar antes de comer.
- Aaaahhh...
Dini não teve dúvidas: encheu um tupperware de água, colocou boiando ali a cenoura e a beterraba e meteu no micro. Não demorou muito até ouvir algo que soava como uma pequena implosão. Ela diz que o microondas é roxo por dentro até hoje.

2.

Na época de colégio ainda, uma das atividades bacanas do nosso "grupinho" era reunirmos para ir ao cinema. Tenho dois amigos que são praticamente vizinhos, a Juliane* e o Guilhermo*. No final de uma dessas sessões, o Gui ofereceu carona pra Ju, já que a mãe dele viria buscá-lo. Ele pretendia ainda comprar um tênis e a mãe dele queria passar no supermercado, a Ju disse que tudo bem, iria junto com eles. Esperaram um pouco até que a mãe e a avó do Gui chegaram. Foram, os quatro, até o supermercado, onde a mãe escolhia os itens, a avó acompanhava, o Gui ia dando opiniões e a Ju apenas os seguia. O Gui foi carregando as compras, enquanto sua mãe sugeriu que eles a esperassem sentados em um banco, pois a avó já deveria estar cansada, enquanto ela ia buscar o modelo do tênis que o Gui já havia escolhido. A avó sentou no banco vazio, o Gui largou as compras no chão e a Ju ficou ali, parada, junto com eles. Nenhum dos três havia trocando uma palavra até então. O silêncio foi quebrado pela avó.
- Pssshh... Psssh...! Guilhermo...
- Quê, vó?
- Senta aqui com a vó no banco.
- Não, vó, tô a fim de ficar de pé.
- Psshhh, Guilhermo, senta aqui.
- Não quero, vó.
- Mas eu quero falar uma coisa contigo.
Quando Guilhermo finalmente sentou, a avó inclinou-se para o seu lado, fez uma conchinha com as mãos e cochichou no ouvido do neto:
- Abre o olho com as compras, Gui, que essa guria tá nos perseguindo desde o cinema!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

avoid

Sou dessas pessoas que gosta de fazer tudo ao mesmo tempo. Nessas de fazer tudo ao mesmo tempo, acabo não fazendo nada. Esses tempos li em algum lugar sobre a facilidade que as pessoas com déficit de atenção têm em trocar uma atividade por outra. Me identifico muito com essa descrição, minha própria narrativa literária aqui do blog condiz com isso. Escovo os dentes pela manhã já procurando o cartão do ônibus na bolsa. Aí, claro, tento pagar o ônibus com o Panvel Fidelidade e escovo os dentes com Bozzano. Esse pensamento vanguardista atrapalha bastante. A intenção geralmente é boa, mas meu lado desatento e meu lado burro são regiões limítrofes do meu córtex cerebral.
Aos que ainda não compreenderam, exemplifico - expondo a mim mesma: Lá estava eu, toda gatinha, fumando um cigarro na entrada de um shopping da capital. Havia um pequeno grupo de pessoas interessantíssimas ali, fumando também e trocando uma idéia. Dois guris e uma guria. Não ouvia o que eles estavam falando, eu estava com os fones, mas com certeza era algo atraentemente palpitante. Não há dúvidas quanto a isso. A menina estava com um vestido boudoir e um terno compridinho, os garotos tinham o cabelo bagunçado e a barba estrategicamente mal feita para dilacerar corações. É óbvio que o que eles conversavam era imprescindível. Incrível como algumas pessoas são naturalmente interessantes.
Fiz o maior esforço do mundo para parecer interessante também.
Lá pelas tantas, fui puxar o celular do bolso para desligar a música e seguir com os fones, como qualquer boa stalker. Tenho a péssima mania de puxá-lo pelo próprio fio e ele tem a péssima mania de ser um smartphone enorme. Não é que o celular dá uma trancadinha no bolso, eu fico só com o fone de ouvido na mão, ele acaba caíndo e, sem os fones conectados, reproduzindo em alto e bom som o que estava rolando na playlist? ONE, TWO, THREE, NOT ONLY YOU AND ME, GOT ONE EIGHTY DEGREES AND I'M CAUGHT IN BETWEEN. Porra, por que nessas horas não estava tocando um TV On The Radio ou um Massive Attack?! Fiquei TÃO constrangida com aquela Britney Spears descontrolada que acabei pisando em cima do celular. PISANDO EM CIMA DO CELULAR. Se eu já me atrapalho em situações convencionais, imagine só no susto. Ele continuou tocando, claro. Aí quando as faculdades mentais voltaram ao seu funcionamento regular, me abaixei, peguei o dumbphone, dei pause e comecei a rir. A situação durou um átimo de segundo, mas pareceu muito mais. Olhei para o lado, os três estavam me olhando e rindo também. Fiquei em dúvida se estavam rindo mais da Britney ou se de mim, pisando naquele celular como quem mata uma barata. Acendi outro cigarro e saí dali, ainda rindo, mas evitando perder a compostura. Bem feito.

Moral da História¹: Sempre aja com calma e tranquilidade, raciocine bem antes de fazer as coisas e as faça uma de cada vez.
Moral da História²: Só ouça Britney Spears trancado sozinho em um quartinho escuro, frio e úmido.
Moral da História³: Não compre um Nokia E63. Ele quer foder você.