terça-feira, 21 de dezembro de 2010

TX

Já vinha pensando neste post há tempos, mas como nunca achei que os casos isolados rendessem boas histórias, hoje resolvi fazer um apanhado. Não serão todas, serão algumas, senão fica cansativo. Talvez vire uma série no blog, talvez não. Enfim.
Eu atrair gente estranha é um fato irrefutável, ouk. Mas o que as pessoas talvez não saibam é que o meu imã pra gente estranha é tão, mas tão forte, que atrai até carros. De uns anos pra cá, a medida que meu salário foi dando uma melhorada, descobri a maravilha que é o mundo dos táxis. Como não nasci com a parte do cérebro responsável por aprender a dirigir, foi a solução para uma série de problemas como atrasos, dias chuvosos e madrugadas boladonas. O lance é que eu sempre dou pé frio com taxista. Quer dizer, meu imã faz com que eles venham até mim, parem, brotem nas ruas, lotem o ponto aqui perto de casa. Nunca consigo pegar um taxista normal. Normal, desses que ficam quietos durante o trajeto e, no máximo, falam do clima e esses papos de elevador. Não. Taxista, comigo, tem que ou não bater muito bem, ou estar trabalhado nos psicotrópicos.

Causo 1 - O da Mulher-Taxista
Já não é muito comum uma mulher dirigindo táxi, mas aí, claro, a minha não poderia parar por aí. Era quase 2h, saía de uma festinha no apartamento de uns amigos que haviam recém se mudado para a cidade-baixa. Caminhei até a frente do Opinião e peguei o táxi ali na esquina. Tenho o costume de sentar do lado do motorista, dificilmente sento atrás. Sei lá, acho mais prático. Entrei, sentei, afivelei o cinto, "oi, boa noite". "Oi, amada! Vamos pra onde?". Dei as coordenadas, disse por onde achava melhor que ela fosse, e seguimos viagem. Ela estava desligando o celular quando entrei no carro, aí não perdeu a chance de me contar que falava com a filha mais velha, que só dava incomodação, que queria levar gente para a casa dela e ela não queria zueira de madrugada na casa enquanto estivesse fora trabalhando e tudo mais. "Ahã, pois é", me limitei. Contou mais algumas coisas da vida, dos filhos, do trânsito, apenas concordei. Chegamos no portão do meu prédio, a rua deserta, as luzes apagadas. Enquanto pegava o dinheiro na carteira, ela rapidamente soltou "Eu me chamo Isabel, e tu, qual o teu nome?". "Silvia", respondi. "Silvia?! Então peraí que eu tenho uma coisa pra ti...". Virou para o lado e começou a mexer numa bolsa preta que estava entre a perna dela e a porta. "MEUDEUS, ESSA MULHER VAI ME MATAR!", pensei, tentando puxar o pino da porta automática. O pino não subia, começou a me bater um pavor, eu conseguia ver ela puxando uma arma ou uma faca daquela bolsa, "uma coisa pra ti"! Só pode ser a morte! E eu, justo eu, que pensava em tantas maneiras bacanas e dramáticas de morrer, ia morrer ali naquele táxi! Não! Nããããooooo! "Ó". Ela me estendeu um chaveiro. Eu estava evidentemente apavorada, meio que defendi o rosto com as mãos, aí vi aquele chaveiro na mão dela. "Quê!?". Peguei o chaveiro. Era um daqueles de quadradinhos de metal empilhados, com letrinhas. Estava escrito "Silvia", em letras coloridas. "Eu ganhei esse chaveiro há um tempo e sempre carrego na bolsa, sabia que um dia ia dar carona para uma Silvia", disse, sorrindo. Eu comecei a rir, a rir de nervosa. "Sééério?", eu disse, rindo muito. Agradeci, passei a mão na perna pra conferir se eu não havia me mijado, paguei e ela ainda me deu um cartão, "porque nós mulheres temos que nos cuidar nessas madrugadas, né? só ligar, sempre trabalho nesse horário!". Nunca liguei, mas tenho o chaveiro até hoje. E ah, posso falar que ter visto a vida em flashes não foi tão interessante assim como dizem por aí.

Causo 2 - O do fã de Britney Spears
Esse aconteceu ontem, voltando do Barra. Fui no cinema com uma amiga e, na saída, como já estava meio tarde e o shopping é relativamente perto de casa, me dei ao luxo de pegar um táxi. Entrei, era um cara normal, de seus trinta anos. Expliquei o caminho, seguimos viagem. Não pude deixar de notar que, no rádio, estava rolando "Womanizer" a milhão. Wo-womanizer, you're a wo-womanizer, baby! you, you-you aaare, you, you-you aaare. Não soube bem se era o movimento do carro ou se era o cara, mas ele se mexia bastante naquele banco. Quando na sequência engatou um "Circus", boa travesti que sou, me dei conta: não era rádio, era um CD. Aliás, era o próprio Circus, que ficou evidente com "Out From Under". Estávamos quase chegando quando esbocei um sorriso com aquele taxista, que de pintosa não tinha nada, ouvindo Circus lindamente no carro. Ele percebeu, e disparou "Eu gosto muito da Britney, não sei como tem gente que não gosta! Numa corrida já pediram pra eu tirar, acredita? Tu gosta, né? Mulher sempre gosta!". Meu gaydar não apitou, e meu gaydar raramente falha. Quis pedir o cartão, mas fiquei com vergonha, faltou a oportunidade. Imagine só, um hétero, taxista e fã de Britney. Tá aí algo que não se vê todo dia...

Causo 3 - O Marcello Mastroianni
Esse é clássico. Já peguei táxi com ele umas 5 vezes, é do ponto ali na frente da Ritter. Sempre, repito, sempre que vou pegar táxi, ele está com um saco desses pardos, cheio de coxinhas de galinha fritas. Ele não fala, ele só mastiga. Concorda, discorda e cobra. É bizarro. Chamo ele, na minha cabeça, claro, de Marcello Mastroianni, porque sempre que o vejo com aquelas coxinhas e aquele leve tom de desespero, lembro de A Comilança, do Ferreri. E Marcello Mastroianni é o único nome de ator que lembro. Na terceira vez, nem precisei mais indicar o caminho, ele já sabia onde eu morava, o que dá um certo medo. O volante e a marcha são brilhantes de tanta gordura, e o fato de estar dirigindo não o impede de continuar mandando as coxinhas. Por incrível que pareça, não é tão gordo quanto deveria ser. Esses dias fui pegar táxi com outro e ele estava ali no ponto, era o de trás. Vi que mexia em algo no painel, e identifiquei um GPS. Pobre GPS.