segunda-feira, 19 de março de 2012

"a paperclip can be a wonderous thing." (MACGYVER, Angus)




















Boa tarde, galerinha do barulho. Hoje vamos aprontar altas confusões. Creio que o último ~tutorial~ que postei foi o de tipos móveis, que já faz bastante tempo, então hoje aprenderemos a fazer um mural usando um clips, um chiclete mascado e uma banana. brinks (médio).
Sempre achei esses murais de cortiça com alfinete, de metal com imã e a fins meio bagaceiros, mas a ideia de aglomerar fotos, recortes e coisinhas na parede deveras me agrada. Foi numa aula de malhas - estrutural, filosofal e diagramacional - que me caiu a ficha. "Vou fazer um grid na minha parede!". Gênia.
Grid é, segundo o Dicionário Visual de Design Gráfico, uma "estrutura gráfica utilizada para organizar a disposição de elementos individuais em um design ou em uma página. Um grid funciona de forma semelhante aos andaimes usados na construção de edifícios e serve como guia para o posicionamento de texto, fotos, diagramas, gráficos, fólios, cabeçalhos, colunas etc." (AMBROSE; HARRIS. 2009. - puta mina insuportável, mêu).

Então vamos lá, você vai precisar de:
// 8 Pregos;
// Martelo;
// Linha de pesca;
// Tesoura;
// Régua de prumo e nível (só se tiver em casa mesmo, que é pra garantir que ficará retinho);
// Clips e outros prendedores;
// Fotos, papéis, penduricalhos;
// Noção e coordenação motora (não é extremamente necessário, eu fiz sem).


Marque os 8 pregos na parede, 3 em cima, 3 embaixo e 2 no meio. É bacana que eles fiquem mais ou menos retos e perpendiculares para quando passar a linha de pesca, como mostra a figura abaixo. Sempre quis dizer isso. De novo: como mostra a figura abaixo. Risos.


É importante frisar que, nesse momento, deverá ser usada a coordenação. De cada dez marteladas que eu dou, acerto uma ou duas, o que acaba arrebentando o reboco da parede. Não faça isso. Use o martelo com moderação.


Pregados os pregos, comece a passar a linha de pesca. A ideia é que se faça uma malha filosofal mesmo, passando ela pelas quatro arestas externas e, por dentro, um "x" e um "+". Ou seja, pegue a linha de pesca e faça um nó bem apertado no prego 1, aí passe e enrole essa linha no prego 2, faça o mesmo no prego 3, enrole novamente no prego 2 e amarre no prego 1. Deu para entender? Em suma, passe a linha umas duas vezes por cada prego, que é para garantir a resistência. Repita a operação entre os pregos 3, 5 e 8; 6, 7 e 8; 1, 4 e 6. Aí, claro, passe uma linha entre os pregos 2 e 7 e os pregos 4 e 5. Também entre os 6 e 3 e os 1 e 8. Depois, entre os pregos 2, 4, 5 e 7, passei uma fita vermelha bagaceira que eu tinha em casa, formando um losango, só pra ficar bonitinho e ter mais traços.















Falando assim parece complicado, mas é barbada, a linha de pesca simplesmente tem que fazer esse desenho na parede:














Pronto. Feito isso, é só sair prendendo as coisas nos fios até "apagar" a parede, vai dar a impressão de que está tudo suspenso e preso individualmente, sendo que são apenas 8 pregos, fica muito bacana. É bem resistente, posso garantir, tive um por três anos e nunca arrebentou. O meu ficou assim ó:



domingo, 4 de março de 2012

repelindo e cantando e seguindo a canção

Dois avisos prévios: 1. O post ficou gigantesco, mas fiquei com peninha de cortar algumas coisas fora. Sei que não é linguagem de blog, não é dinâmico ter texto comprido, não segue as heurísticas de Nielsen e blábláblá, mas né, it's my party and i'll cry if i want to; 2. Homens, já aviso de antemão: a maioria de vocês não vai gostar. Não por ser um post sobre moda (não é um post sobre moda. Ouk, é também, mas tá longe de ser o foco), mas por conter algumas verdades. Não precisam ler, não vou ficar ofendida.











Hoje publiquei no facebook uma foto minha usando um batom preto e a seguinte enquete: "batom preto é legal só no inverno, batom preto é legal em qualquer estação ou batom preto nunca é legal?". Gerou uma breve discussão, e uma amiga comentou que homens no geral não gostam muito de batom. Há um tempo, um garoto de quem eu era bem a fim publicou que não gostava de mulheres de batom vermelho, e automaticamente pensei em não usar mais, pelo menos não na frente dele. Depois de um ou dois minutos digerindo o assunto, resolvi que iria usar sim, na frente dele, de deus e do mundo! Ora essa. Isso tudo me remete a apenas uma coisa: Man Repeller.
Exatamente nessa mesma época, só que há um ano atrás, li uma matéria que mudou um pouquinho a minha vida. Aliás, não diria nem que mudou a minha vida, mas me ajudou a definir melhor quem sou. Lembro como se fosse ontem. Era horário de almoço e eu, como boa excêntrica, fui ler a vogue de março sentada em um banco da redenção, porque inventei que tinha que comprar um saquinho de pipoca e jogar para as pombas (era algo que nunca tinha feito, mas sempre tinha tido vontade). Bem no começo da revista tinha uma matéria escrita pela Costanza Pascolato com o título "Vestida para conquistar?". Falava sobre uma blogueira de 22 anos que espantava homens com o seu estilo. Aquilo muito me interessou. Até então, não conhecia o blog dela, o Man Repeller, e acabei virando assídua. Leandra Medine mora em Manhattan e é judia, filha de joalheiro. Ou seja, já largou na frente.















Ela conta que criou o blog em 2010, enquanto chorava as pitangas para uma amiga sobre a desgraça que era sua vida amorosa, e a amiga culpou as roupas, disse que ela repelia os homens com todas aquelas camadas, cores, estampas, meias, ombreiras, couro, enfim. O que mais gosto no blog é quando ela traça um paralelo entre o man getter e o man repeller. Começa com um vestidinho básico e um salto. Man getter. Aos poucos, ela vai adicionando, em cima do salto e do vestidinho, uma camisa, um colete, uma echarpe, uma meia, óculos enormes, cintos, até ficar maravilhosa. Man repeller. Os homens não gostam desse circo, não adianta. Nós, mulheres, nos divertimos muito nos arrumando, pintando as unhas, fazendo o cabelo, a maquiagem, provando roupas, é todo um ritual de purificação da alma, dos chácras e coisa e talz. Pergunte para qualquer homem por aí, a maioria deles vai dizer que prefere uma mulher "mais natural, com o cabelo solto, sem muita maquiagem, com uma roupa simples e confortável". Risos.
Em primeiro lugar, homens não sabem diferenciar uma mulher sem maquiagem de uma mulher com um corretivo nas olheiras, base para nivelar o tom da pele e um rímel transparente para aumentar os cílios. Eles não fazem nem ideia do nosso esforço. Se realmente fôssemos "naturais" como eles tanto querem, estaríamos todas andando por aí com um buço, uma leve monocelha, o cabelo ressecado, as unhas sujas, cheias de espinhas e impurezas na pele. É isso o que vocês preferem, homens? Acho que não, né. Embora eu bote muita fé em mulher que não se depila, eu faria a mesma coisa se tivesse a coragem e os colhões, é um belo tapa na cara da sociedade, mas enfim, foco no assunto.
Leandra Medine me ensinou que se um homem não gosta do jeito que a mulher se veste e exige que ela use outra roupa, ele talvez não valha a pena. Não troque de outfit, troque de homem, não tem porque mudar quem se é para agradar outra pessoa. Nunca fui o tipo de guria que usa decote ou roupas coladas, minhas roupas, na sua maioria, são largas, estampadas, coloridas. Na noite, atraio bem mais homens gays do que héteros, mas os héteros que atraio são exatamente o tipo que procuro atrair, são meu público alvo. Não sou lá muito bonita, mas sou bem montada e tenho um "chalalá" convincente - cada um joga com o que tem.
No fundo, o Man Repeller é um blog sobre feminismo. Sobre o direito da mulher de usar o que ela bem entender, de se divertir com a sua roupa e ser feliz assim, sem julgamentos. Se ela quer usar uma calça verde limão com um colete de pele sintética de leopardo, ela deve usar, independente do que os outros vão pensar. Se ela quer usar uma saia curtíssima, um decotão e um "come-fuck-me-heels", ela deve usar também, sem o medo de ser estuprada por aí. É muito mais divertido fugir dos padrões estéticos, é muito mais divertido quebrar os paradigmas.












N.E.¹: Fiz meu próprio man repeller. Minhas roupas são de grandes magazines, a câmera que usei foi a do meu celular e devo pesar o dobro do que pesa a Leandra Medine. Mas né, cada um joga com o que tem.
N.E.²: Lembrei agora de uma palestra que a Jana Rosa deu há um ou dois anos sobre tendências, era a época em que se voltou a falar de batom preto. Não hesitei em perguntar, "e aí, Jana, que tu achas: batom preto tá liberado?". Ela me olhou fundo nos olhos e disse "Tá liberado!". End of discussion.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

1992 / 2012


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

era, e é, uma vez...


Nessas de mudança, tenho revirado muitas revistas, livros, todo o passado impresso. Até minha certidão de nascimento encontrei - e descobri que meus pais só foram me registrar um mês e seis dias depois, mas enfim. Selecionei alguns livros que eu queria manter e alguns para doar, dentre os mantidos, estava uma publicação lindíssima da Cia. das Letras, Fábulas de Esopo. É um livro incrível com várias histórias e ilustrações antigas. Desconfio que tenha sido a TPM falando mais alto, mas a vontade foi a de guardar o livro e futuramente lê-lo para os meus filhos, antes de dormir. Visualizei toda uma cena onde uma linda criança, envolta em lençóis egípcios, adormecia em doces sonhos enquanto eu, abrindo randomicamente o livro, lhe contava histórias. Risos.
Como em meio ao meu vislumbre eu realmente tinha dado uma folheada randômica, resolvi ler uma fábula, intitulada "A Cigarra e as Formigas". Hm, um clássico!, pensei. Em uma página muito limpa, as serifas indicavam o caminho:

A Cigarra e as Formigas

Num belo dia de inverno as formigas estavam tendo o maior trabalho para secar suas reservas de trigo. Depois de uma chuvarada, os grãos tinham ficado completamente molhados. De repente aparece uma cigarra:
- Por favor, formiguinhas, me dêem um pouco de trigo! Estou com uma fome danada, acho que vou morrer.
As formigas pararam de trabalhar, coisa que era contra os princípios delas, e perguntaram:
- Mas por quê? O que você fez durante o verão? Por acaso não se lembrou de guardar comida para o inverno?
- Para falar a verdade, não tive tempo - respondeu a cigarra - Passei o verão cantando!
- Bom... Se você passou o verão cantando, que tal passar o inverno dançando? - disseram as formigas, e voltaram para o trabalho dando risada.

Moral: Os preguiçosos colhem o que merecem.

Véi. Tipo. Cada vez que alguém lê essa história, um unicórnio morre, tá ligado? A cigarra estava prestes a morrer de fome e as formigas, não satisfeitas em não oferecerem um bucadinho pequenininho de trigo, ainda deram uma zuada legal nela. O bicho dizendo que ia morrer de fome - no frio!, importante frisar - e as formigas fazendo piada, rindo e ignorando o problema. Fome, frio, desespero, solidão - risadas. É MUITO CRUEL. Como alguém pode achar que isso é algo que se ensine? Cadê o altruísmo, a filantropia? Se o interesse for o de criar um exército de crianças sem alma, aí beleza, mas sabe?
Minha mãe comentou que, na sua época, já não se lia muito tais fábulas, mas que os pais e os avós dela foram criados assim. Não é à toa que a maioria dos nossos avós são meio reaça. O meu, por exemplo, acha que a profissão que escolhi, design gráfico, não é "trabalho de gente de verdade", sem contar que ele jamais aceitaria um negro na família. Esses preconceitos se diluem com o passar do tempo e das gerações, por mais que ainda existam, acredito que o futuro só tende a ser mais livre, mais compreensivo, mais igualitário. Julgo muito melhor ensinar o valor da solidariedade humana para a geração futura do que os preguiçosos colhem o que merecem, sucker!