domingo, 4 de março de 2012

repelindo e cantando e seguindo a canção

Dois avisos prévios: 1. O post ficou gigantesco, mas fiquei com peninha de cortar algumas coisas fora. Sei que não é linguagem de blog, não é dinâmico ter texto comprido, não segue as heurísticas de Nielsen e blábláblá, mas né, it's my party and i'll cry if i want to; 2. Homens, já aviso de antemão: a maioria de vocês não vai gostar. Não por ser um post sobre moda (não é um post sobre moda. Ouk, é também, mas tá longe de ser o foco), mas por conter algumas verdades. Não precisam ler, não vou ficar ofendida.











Hoje publiquei no facebook uma foto minha usando um batom preto e a seguinte enquete: "batom preto é legal só no inverno, batom preto é legal em qualquer estação ou batom preto nunca é legal?". Gerou uma breve discussão, e uma amiga comentou que homens no geral não gostam muito de batom. Há um tempo, um garoto de quem eu era bem a fim publicou que não gostava de mulheres de batom vermelho, e automaticamente pensei em não usar mais, pelo menos não na frente dele. Depois de um ou dois minutos digerindo o assunto, resolvi que iria usar sim, na frente dele, de deus e do mundo! Ora essa. Isso tudo me remete a apenas uma coisa: Man Repeller.
Exatamente nessa mesma época, só que há um ano atrás, li uma matéria que mudou um pouquinho a minha vida. Aliás, não diria nem que mudou a minha vida, mas me ajudou a definir melhor quem sou. Lembro como se fosse ontem. Era horário de almoço e eu, como boa excêntrica, fui ler a vogue de março sentada em um banco da redenção, porque inventei que tinha que comprar um saquinho de pipoca e jogar para as pombas (era algo que nunca tinha feito, mas sempre tinha tido vontade). Bem no começo da revista tinha uma matéria escrita pela Costanza Pascolato com o título "Vestida para conquistar?". Falava sobre uma blogueira de 22 anos que espantava homens com o seu estilo. Aquilo muito me interessou. Até então, não conhecia o blog dela, o Man Repeller, e acabei virando assídua. Leandra Medine mora em Manhattan e é judia, filha de joalheiro. Ou seja, já largou na frente.















Ela conta que criou o blog em 2010, enquanto chorava as pitangas para uma amiga sobre a desgraça que era sua vida amorosa, e a amiga culpou as roupas, disse que ela repelia os homens com todas aquelas camadas, cores, estampas, meias, ombreiras, couro, enfim. O que mais gosto no blog é quando ela traça um paralelo entre o man getter e o man repeller. Começa com um vestidinho básico e um salto. Man getter. Aos poucos, ela vai adicionando, em cima do salto e do vestidinho, uma camisa, um colete, uma echarpe, uma meia, óculos enormes, cintos, até ficar maravilhosa. Man repeller. Os homens não gostam desse circo, não adianta. Nós, mulheres, nos divertimos muito nos arrumando, pintando as unhas, fazendo o cabelo, a maquiagem, provando roupas, é todo um ritual de purificação da alma, dos chácras e coisa e talz. Pergunte para qualquer homem por aí, a maioria deles vai dizer que prefere uma mulher "mais natural, com o cabelo solto, sem muita maquiagem, com uma roupa simples e confortável". Risos.
Em primeiro lugar, homens não sabem diferenciar uma mulher sem maquiagem de uma mulher com um corretivo nas olheiras, base para nivelar o tom da pele e um rímel transparente para aumentar os cílios. Eles não fazem nem ideia do nosso esforço. Se realmente fôssemos "naturais" como eles tanto querem, estaríamos todas andando por aí com um buço, uma leve monocelha, o cabelo ressecado, as unhas sujas, cheias de espinhas e impurezas na pele. É isso o que vocês preferem, homens? Acho que não, né. Embora eu bote muita fé em mulher que não se depila, eu faria a mesma coisa se tivesse a coragem e os colhões, é um belo tapa na cara da sociedade, mas enfim, foco no assunto.
Leandra Medine me ensinou que se um homem não gosta do jeito que a mulher se veste e exige que ela use outra roupa, ele talvez não valha a pena. Não troque de outfit, troque de homem, não tem porque mudar quem se é para agradar outra pessoa. Nunca fui o tipo de guria que usa decote ou roupas coladas, minhas roupas, na sua maioria, são largas, estampadas, coloridas. Na noite, atraio bem mais homens gays do que héteros, mas os héteros que atraio são exatamente o tipo que procuro atrair, são meu público alvo. Não sou lá muito bonita, mas sou bem montada e tenho um "chalalá" convincente - cada um joga com o que tem.
No fundo, o Man Repeller é um blog sobre feminismo. Sobre o direito da mulher de usar o que ela bem entender, de se divertir com a sua roupa e ser feliz assim, sem julgamentos. Se ela quer usar uma calça verde limão com um colete de pele sintética de leopardo, ela deve usar, independente do que os outros vão pensar. Se ela quer usar uma saia curtíssima, um decotão e um "come-fuck-me-heels", ela deve usar também, sem o medo de ser estuprada por aí. É muito mais divertido fugir dos padrões estéticos, é muito mais divertido quebrar os paradigmas.












N.E.¹: Fiz meu próprio man repeller. Minhas roupas são de grandes magazines, a câmera que usei foi a do meu celular e devo pesar o dobro do que pesa a Leandra Medine. Mas né, cada um joga com o que tem.
N.E.²: Lembrei agora de uma palestra que a Jana Rosa deu há um ou dois anos sobre tendências, era a época em que se voltou a falar de batom preto. Não hesitei em perguntar, "e aí, Jana, que tu achas: batom preto tá liberado?". Ela me olhou fundo nos olhos e disse "Tá liberado!". End of discussion.