segunda-feira, 13 de junho de 2011

pra não dizer que não falei das lombadas


Em junho de 2006, trazendo na capa uma Gisele com ares fatigados prometendo um "balanço de sua vida" no recheio, a Vogue Brasil mudava o seu projeto gráfico. Não drasticamente, mas aquela velha história de dar um "ar mais dinâmico" para a revista. Eu sempre apoio essas pinceladas temporais, de acordo com a necessidade. Daniela Falcão é, querendo ou não, a diretora responsável, apesar de ainda assumir o papel de diretora de redação com a saída da Patrícia Carta e a não mais publicação através da Carta Editorial e sim da Globo Condé Nast. Na época, ela definiu o redesenho como uma enfatização de que a Vogue é uma revista de moda, ou seja, era necessário uma reorganização das seções, como a diferenciação de cultura e consumo de moda, por exemplo. O novo desenho entra para deixar essa reorganização mais leve e feminina, com um design mais orgânico. Agora está menos engessada e mais nervosa, disse.

Nessa mesma capa, ainda se referia à Alemanha como o país da copa, os 30 anos do punk eram revisitados e invejava-se os lábios de Angelina Jolie e o corpo de Elle Macpherson. Na época, quem fez o novo projeto gráfico da revista foi a própria diretora de arte, a inglesa Rebecca Mason. Hoje em dia, Mila Waldeck, diretora de arte da Vogue já há alguns anos, capitaneou essa "engenharia nos pilares da revista", como definiu Falcão, com o auxílio da própria Mason, a mesma de cinco anos atrás. Devo frisar que a Rebecca é uma gracinha fashionista de uns trinta e poucos. Na capa da "nova reforma", edição de junho de 2011, temos Raquel Zimmermann vestindo Animale e as chamadas - muito mais chamadas do que há cinco anos: cremes para as idades de 20 à 50, o poder do branco no inverno, os casacos mais desejados da estação e Marta Suplicy, Bia Antony e Kate Middleton. Veja só.

Gostei, e muito, da "nova cara". Não é fácil diagramar uma revista com o volume, a quantidade de informações, o acervo imagético e a assiduidade mensal que a Vogue apresenta. Mesmo assim, eles tiram de letra. Acho engraçado como as pessoas gostam de escorraçar a Vogue por ser elitista, por tratar a moda fora da realidade, por ser medíocre e superficial, por já ter virado mainstream. Acho engraçado mesmo. Sou defensora com unhas e dentes da Vogue. Reconheço que há uma série de revistas, blogs e designers interessantíssimos por aí que podem estar sendo atropelados de alguma forma, mas jamais se pode tirar o mérito. É uma revista de arte, de contemporaneidade, com boas matérias, editoriais, saudosismos e o que está em cena atualmente. É o que Anna Dello Russo já afirmou há tempos: ninguém compra uma Vogue para ver jeans e camiseta. Ninguém vai a uma exposição de arte para ver o que nós mesmos podemos rabiscar com uma bic.

Enfim, escrevi tudo isso para dizer: Vogue, sualinda, é isso aí! A tipografia fluída, as colunas, os créditos, as legendas, as informações dos produtos, até a cursiva - e olha que eu sou sempre a primeira a levantar a bandeira contra as cursivas -, até a cursiva ficou genial! Sou puxa-saco sim, me deixa. Mas ó, o mais legal, disparado e sem sombra de dúvida, foi a lombada. Que lombada maravilhosa! Quem empilha/enfileira revistas, sabe o valor de uma lombada. Que lombada bem linda...


N.E.: Um amigo comentou que achou estranho o logotipo estar em "sans serif" na lombada. Queria afirmar que eles não mudaram o logotipo, apenas tiveram os colhões de alterá-lo só ali como recurso gráfico, em prol de melhores leiturabilidade e visibilidade. Para isso, também tiraram o itálico, colocaram o "n°" em caixa alta e mudaram completamente a tipografia, os pontos e a proporção.