sexta-feira, 21 de maio de 2010

fale ao motorista somente o indispensável

Eis que dia desses matinei para pegar o C2 com a L., rumo a visita a uma cartonagem. A cartonagem até é fio para outra meada, mas esse pequeno ato de pegar o ônibus já me levantou algumas observações. O Circular 2, a.k.a C2, é, assim como os outros circulares, um ônibus diferente dos demais, um pouco menorzinho e mais aconchegante. O trajeto do C2, tal qual o do T2A, é um mistério para mim. Tenho a teoria de que o motorista não sabe com precisão para onde está indo, a trajetória não passa de um grande caminho aleatório onde as pessoas dão sorte de encontrá-lo passando por alguma rua e torcem para que ele as leve ao local desejado, porque não é possível decorar aquele caminho sinuoso.
Mas então, estávamos lá nós quatro, eu e L., L. e eu, esperando o C2. Ao ancorar perto da calçada, algumas pessoas subiram antes. Não pude deixar de notar o high-five trocado entre a moça que estava na minha frente e o motorista. High-five. Com o motorista. Pensei ouk, ela deve pegar esse ônibus todos os dias no mesmo horário e eventualmente tricota com o seu motora. Get a life, dude. Porém qual não foi a minha surpresa quando, ao chegar minha vez de direcionar-me à roleta, o motorista me levanta seus 5 dedos, sorri e me tece uma expressão amigável. Nem hesitei em chocar minha mão aberta contra a dele, com um quê animado, e acredito ter deixado escapar um "high-fiiive!" baixinho, porém digno de muita empolgação. Na roleta, outra coisa não passou batido: os "bom dia". Todos cumprimentávam-se, começava no cobrador e ia até onde a pessoa sentasse. "Bom dia", sorriso.
Logo que sentei mais ao fundo do ônibus, com meu leve mal humor matinal costumeiro, achei aquilo bem estranho e bobo. Ao longo das paradas, passei a juntar algumas coisas: como é um ônibus de menor frequência, as pessoas que precisam pegá-lo no mesmo horário tendem a encontrar-se todos os dias. E não tem muita margem para desencontros, uma vez que os horários são rígidos e espaçados entre si. Há algo mais civilizado do que cumprimentarmos quem vemos todos os dias? Até o dia começa melhor, recebendo e dando sorrisos educados e de bom tom. Shiny happy people. É uma atitude bacana, gentil e bemcomida. E é isso o que mais falta nas pessoas hoje em dia. Tom Waits mesmo tuitou há pouco tempo que "if there's one thing you can say about mankind, there's nothing kind about man". Triste verdade, quanto mais avançamos globalmente, mais regredimos humanitariamente. O individualismo atropela qualquer possível atitude altruísta, e um high-five com o cobrador e sorridentes "bom dia" no C2 podem ser um pensamento romântico do século XVIII de retomada da elegância já desgastada.