terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O tempo e o vento. E os anões de jardim.

No caminho entre a minha casa e a casa do meu namorado, há um prédio. Aliás, há vários prédios, mas esse se destaca. O caminho entre a minha casa e a casa do meu namorado é relativamente comprido, não sei quantos quilômetros, mas sei que dá R$11 de táxi - que é como eu sei medir algumas distâncias. Sei também medir em minutos no ônibus, incluíndo o tempo médio de espera. Gosto de me locomover, enfim. É um prédio que se destaca dos demais. Não é tão alto, nem tão baixo, ou largo, ou fino. Diria que é um prédio mediano. Porém, com uma peculiaridade. Ímpar, acrescentaria.
Uma Branca de Neve cercada de sete anões é, infelizmente, comum em jardins. Agora uma Branca de Neve cercada de sete anões que se locomovem semanalmente, quiçá diariamente, não é comum. Sempre que passo por lá, eles estão dispostos de uma maneira diferente. Um dia, foi o enterro da Branca de Neve: a escultura com sua tinta já desgastada estava deitada no chão, nos permitindo ver sua base de cor-de-barro, enquanto os sete anões estavam dispostos ao redor do corpo jazido. Apesar de sorriso nos rostos - menos o Zangado - eles pareciam tristes devido à encenação toda. Outrora, os anões pareciam seguir a Branca de Neve, que os guiava pelo jardim de entrada do prédio. Houve a vez também em que eles estavam todos de costas para a rua, ou ainda, a vez em que um anão estava estrategicamente posicionado atrás da princesa, e os outros espalhados ao redor, como se apenas a altura da Branca de Neve impedisse o estupro em via pública.
Agora eu me pergunto: quem diabos faz isso? Neste distinto prédio mora uma pinta que se presta a acordar todos os dias pensando "em qual posição pô-los-ei hoje?", com mesóclise e tudo. Fora o peso que aquelas esculturas não devem ter, imagine só, ficar trocando de lugar sete freaking anões de jardim, mais a Branca, que deve pesar o dobro. Eu levo a minha vida e mais uma jornada de seis horas de trabalho por dia (isso que eu estou de férias! em período normal, mais algumas horas de faculdade) sabendo que há alguém nesse mundo com tempo para locomover anões. Dá pra acreditar nisso? É uma força de vontade, uma força física e uma criatividade, todas canalizadas em mover a Branca de Neve e os sete anões por um pátio de poucos metros por poucos metros, nada que passe dos dois dígitos. O que os outros moradores não devem pensar disso? Ou será que há reuniões de condomínio para discutir quais serão as próximas peripécias da princesa e seus homenzinhos de barba e baixa estatura?
Há de chegar - há de chegar! - o dia em que eu estarei passando por ali e pegarei a pinta no flagra. Páro o táxi, se for o caso. Há de chegar...